A pessoa que recebeu a Palavra de Deus de bom grado em seu coração há de frutificar grandemente, de maneira que todos possam ver os seus frutos. Daí a parábola da candeia, que revela a posição que ocupará no reino espiritual aquele que se deixou transformar completamente pela semente da Palavra.
Marcos apresenta alguns ditos de Jesus que são encontrados, dispersos, em Mateus e Lucas. O dito a respeito da lâmpada sobre o candelabro é encontrado no Evangelho de Mateus, introduzido pela proclamação “Vós sois a luz do mundo!” no início do Sermão da Montanha. Assim, o testemunho dos discípulos deve ser uma luz para o mundo. No ensinamento de Jesus, não há nenhuma falsidade oculta, como na doutrina dos fariseus, nem ensinamento reservado a grupos elitizados como no gnosticismo.
O candelabro era a lâmpada dos tempos de Jesus. Na parábola, a candeia significa a luz de Deus que brilha por meio de alguém que realmente teve uma experiência pessoal com Cristo. Sua vida vai manifestar um brilho especial como que dizendo ao mundo que achou o caminho da paz, da alegria, da fé que as pessoas tanto procuram.
O papel da Palavra de Deus no coração do homem é justamente este, de tirar o homem das trevas do ódio e da amargura, e colocá-lo na luz do amor de Deus. Uma vez que o indivíduo teve essa experiência e vai crescendo mais e mais no conhecimento do Pai, a luz de Cristo, no seu interior, vai brilhar cada vez mais intensamente a fim de se manifestar aos homens que ainda vivem nas trevas (João 1,4-5; I João 1,5-7).
“E disse-lhes: Vem porventura o candelabro para se meter debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não vem antes para se colocar no velador?” ( Marcos 4,21)
O texto diz que a lamparina não vem para ser deixada num lugar qualquer da casa, mas sim no velador que sempre era posicionado em lugares altos de onde podia iluminar toda a casa. Jesus está dizendo que aquele que teve uma experiência genuína com Deus, e que está crescendo em maturidade por meio da semente plantada em seu coração, certamente será posicionado em lugares cada vez mais estratégicos no reino espiritual de maneira que possa abençoar as pessoas de forma mais eficaz. Quem nos posiciona em lugares altos é o Senhor nosso Deus. Ele conhece o nosso coração e sabe se, de fato, temos frutificado e sido abençoadores de outras vidas. “Aquele que é fiel no pouco sobre o muito será colocado” (Mt 25,23).
“Porque nada há encoberto que não haja de ser manifesto; e nada se faz para ficar oculto, mas para ser descoberto” – Marcos 4,22.
Jesus disse que nada está encoberto senão para vir à luz. Ele está querendo dizer que, assim como uma semente plantada na terra permanece oculta por um certo tempo, vindo depois à luz, da mesma forma toda semente divina plantada no coração do homem tende a manifestar-se no seu devido tempo, revelando sua espécie. Aquele que tem recebido pela fé a Palavra de Deus em seu coração, mais cedo ou mais tarde terá a alegria de ver esta Palavra manifestada aos homens pelas novas atitudes e obras praticadas. A luz de Deus deixará de estar no oculto do coração para ser algo notório a todos os homens (cf. Gálatas 5,22-23).
“Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça” (Marcos 4,23).
Os versículos seguintes aos mencionados acima mostram que, para que a luz venha , de fato, manifestar-se, é necessário que o homem, canal da luz, seja um bom ouvinte da Palavra. Os versículos 23 e 24 dizem: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também lhes disse: Atendei ao que ouvis”. Os ouvidos precisam atentar a toda palavra que sai da boca de Deus, porque desta viverá o homem (cf. Dt 8,3b).
O solo que frutificou na parábola do semeador foi aquele que, antes de tudo, ouviu a Palavra e a recebeu, e só então pode dar o fruto esperado. Antes da frutificação vem o receber, e antes do receber vem o ouvir. A pergunta que queremos deixar aqui é sobre como temos ouvido a Palavra. Não o ouvir com os ouvidos naturais, mas com os ouvidos do coração, porque toda frutificação depende de ouvidos sensíveis e receptivos ao que Deus está falando.
“E disse-lhes: Atendei ao que ides ouvir. Com a medida com que medirdes vos medirão a vós, e ser-vos-á ainda acrescentada a vós que ouvis.” (Marcos 4,24-25)
Quem ouve as palavras de Jesus e as acolhe não condena, mas pratica a misericórdia. Quem faz um julgamento usando a misericórdia como medida alcançará, por sua vez, misericórdia em abundância.
A sentença final pode ser um provérbio popular da Antiguidade, que interpreta as relações socioeconômicas daquelas sociedades, no mundo grego-romano e oriental. O rico acumula cada vez mais riquezas à custa dos pobres, cada vez mais empobrecidos. Com certo constrangimento, seria aplicado na perspectiva da fé. Quem tem a fé vai se fortalecendo cada vez mais, enquanto aquele que não a tem, vai se debilitando.
Com que intensidade nós queremos ver a manifestação do brilho de Deus em nossas vidas? Qual o posicionamento no reino espiritual que esperamos da parte de Deus? Todas estas questões dependem de como nos debruçamos de coração ao que estamos a ouvir da parte de Deus. A medida de unção, revelação e autoridade espiritual dependem de uma atitude cada vez mais positiva em relação à Palavra de Deus a nós ministrada. Se a desprezarmos ela não terá proveito para nós; mas se a valorizarmos, Deus nos acrescentará mais e mais de tudo o que ela oferece (cf. Jeremias 29,13; 33,3).
Que toda transformação do nosso coração, operada por Deus e por Sua Palavra, possa resultar na iluminação de milhares de pessoas.
Padre Bantu Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário