Muita gente mata, humilha, oprime e segrega os outros por causa da religião que professa. Logo, pode-se concluir que as religiões são uma coisa má, certo? Bem, se concordarmos com esta afirmação teremos que dizer, seguindo a mesma linha de raciocínio, que a paixão é ruim. Tantas pessoas brigam por causa de uma mulher ou homem! Quantas amizades desfeitas, quantos crimes passionais!
Amigos, cuidado com os raciocínios fáceis. A verdade é simples, mas chegar a ela não é moleza: requer prudência, humildade, curiosidade, honestidade e, acima de tudo, a graça do Espírito Santo.
O post de hoje foi motivado pelo comentário que recebemos da leitora Sarah Signer sobre o artigo “Imagine – o mundo imaginado por John Lennon é uma meleca”. E cá estamos nós de novo falando do eterno Beatle! Espero que, onde quer que ele esteja, não fique todo metidinho, achando que está mais popular aqui no blog do que Jesus Cristo! Se bem que no Além não há LSD, então o povo deve viajar menos na maionese…
O fato é que Sarah fez várias observações interessantes (não concordo com a maior parte, mas são relevantes). Vamos analisar por partes:
“Creio que a mensagem apresentada nessa música vai muito além da doutrina ateísta de John Lennon. Nessa música ele imagina um mundo sem falhas humanas…”
Sim, é verdade. É claro que esse desejo é muito bonito; porém, JLennon errou feio ao imaginar que poderia caminhar rumo à perfeição (ou ao bem absoluto) confiando simplesmente em si mesmo e nas suas boas intenções. Assim surgiu o pecado original: os homens acharam que poderiam ser autossuficientes, ou seja, poderiam se virar muito bem sem Deus. E temos aí o resultado…
Somos incapazes de dar a nós mesmos a felicidade, por mais que nos empenhemos. Vejam, JLennon lutou pela paz com suas belas canções e protestos – os famososBed-in – ao lado da Yoko. Cá pra nós, o resultado prático foi nulo. Acaso alguém vai deixar de promover a guerra por que dois cabeludos estão cantando baladinhas sobre a cama de um hotel de luxo?! O dia que isso acontecer, eu juro que vendo umas rifas e me hospedo com O Catequista no Copacabana Palace: vamos ficar lá por um mês, cantando e tocando Give Peace A Chance no violão. E não se supreendam se ganharmos a fama de grandes pacifistas!
É muito fácil sonhar com o bem (“It’s easy if you try”), mas realizá-lo dia após dia… não é moleza! É uma tremenda falta de realismo crer que, contando só com a nossa força de vontade, podemos nos auto-aperfeiçoar, a ponto de alcançarmos a ausência de falhas.
São Paulo é uma grande referência para nós neste ponto: não confiava nadinha em si mesmo, só em Cristo. Tinha autocrítica suficiente para saber que não era capaz de sem bom sem o auxílio divino:
…porque o querer o bem está em mim, mas não sou capaz de efetuá-lo. Não faço o bem que quereria, mas o mal que não quero. Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal.
Homem infeliz que sou! Quem me livrará deste corpo que me acarreta a morte?… Graças sejam dadas a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! (Rom 7:18; 21; 24-25)
E assim, com o tempo, São Paulo chegou a um nível heróico de caridade e santidade. Não sonhando, mas crendo em Deus e trabalhando.
“…ele imaginou (…) um mundo onde as pessoas não matam umas às outras por elas não serem da mesma religião (…). a religião, porém, nos separa e nos afasta de Deus…”
Vez por outra vemos a notícia de que algum homem matou a ex-namorada ou a ex-mulher, inconformado com o fim do relacionamento; ou de um torcedor de um time de futebol, que espanca e até mata o torcedor do time oponente. O que motivou o crime? A paixão. Podemos dizer, então, que a paixão por uma pessoa ou por um time de futebol é uma coisa ruim? Não é razoável crer nisso! Afinal, uma coisa boa no coração de uma pessoa desequilibrada é facilmente pervertida.
Outro exemplo: muitos pais superprotegem os filhos, tentando poupá-los do sofrimento e das maldades do mundo. E assim, criam pessoas despreparadas pra enfrentar a vida. Porque fazem isso? Porque amam e zelam por seus filhos, ora! De novo: coisas boas são frequentemente deturpadas pela nossa confusão e imaturidade.
Do mesmo modo, Cristo só pregou o amor e a paz, mas tem maluco que pega a Bíblia, interpreta de uma maneira torta e comete atrocidades em nome dEle. E aí, Jesus é ruim, a Bíblia é ruim? Sarah, uma pessoa violenta só precisa de um motivo pra extravasar a sua maldade: a paixão, a justiça social (vide o genocídio ainda hoje cometido pelos governos e milícias comunistas), a honra, o futebol etc. A religião é só mais um entre os possíveis bodes expiatórios para os loucos.
Reconheço que algumas religiões são mesmo um atraso de vida. Porém, é injusto e infame enfiar a Igreja Católica neste balaio. Já tratamos disso em diversos posts: basta comparar as nações influenciadas pelo cristianismo com as demais para notar a imensa diferença de evolução nos direitos humanos, na ciência e na moral.
“Deus não criou a igreja e nem a religião, isso é criação humana…”
Sarah, de que Deus você está falando? Nós cristãos cremos que Deus se fez homem na pessoa de Jesus Cristo. Os profetas que anunciaram a Sua vinda revelaram que Ele traria a “verdadeira religião”, e Ele mesmo disse que edificaria uma igreja:
Eis meu Servo que eu amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião. (Isaías 42:1)
E eu te declaro: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mateus 16:18)
Em parte, Sarah, você está certa quando diz que religiões e igrejas são criações humanas, pois muitas delas são mesmo; porém, essa afirmação não cabe aos judeus e católicos. Judaísmo e catolicismo não brotaram a imaginação humana: são baseados em verdades reveladas pelo próprio Deus. Mas isso é papo pra outro post!
“Deus apenas criou o bem e o caminho correto…”
Perfeito! Mas, Sarah, o que é o bem? JLennon, por exemplo, usou drogas por muitos anos, de todo o tipo. Foi um caminho que ele escolheu, e por um bom tempo ele achou que isso era bom pra ele.
Qual é o caminho certo? Muitas vezes, as pessoas se sentem perdidas. E uma multidão segue pela via do erro, crente que tá indo pelo lado certo.
E, Sarah, qual é o caminho correto?
Uma amiga minha, quando ficou grávida, resolveu abortar. Ela achava que esse era o caminho correto. Antes de realizar o “serviço”, porém, o abortista solicitou uma ultrassonografia. Foi então que minha amiga viu aquelas perninhas e bracinhos se mexendo… Caramba, era mesmo um bebê! E ela desistiu de matar sua filha. Mas ficou a um triz de cometer esta atrocidade. Infelizmente, nem todas voltam atrás: optam pela via do erro, crentes que estão fazendo o melhor.
Nós somos pobres ignorantes neste mundo, Sarah. Muitas vezes confundimos o mal com o bem e não sabemos qual é o caminho, a não ser que Deus nos mostre, de maneira clara e inequívoca. Por isso, Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João 14,6).
E assim tudo ficou mais simples! Bastava olhar para Aquele homem, ouvir Suas Palavras, permanecer com Ele.
E o Senhor escolheu alguns homens, os Apóstolos, e lhes deu a missão de anunciar a Sua mensagem a todos os povos. Então, a Igreja Católica Apostólica Romana é isso: a continuidade do trabalho dos Apóstolos na história, de modo que o Evangelho ilumine todas as gerações. Por meio dela o amor de Jesus nos alcança hoje da mesma forma que alcançou os discípulos há 2 mil anos.
Sem seguir nenhuma religião, seguimos e adoramos a nós mesmos. Idolatramos a nossa tosca capacidade de decidir o que é melhor pra nossa vida, sem precisar de profetas, revelações ou ensinamentos. “Somos fodões, podemos chegar à verdade sozinhos, não precisamos ser doutrinados!”.
“Deus (…) nos deu o livre arbítrio para decidir sobre o rumo de nossas vidas.”
Sim, é claro. E Ele também nos enviou o Seu Filho, para nos ensinar a usar bem o nosso livre-arbítrio, e a decidir pelo bem e rejeitar o mal. Afinal, quem insiste em abusar da sua liberdade jamais alcançará sua paz interior. E muito menos poderá contribuir com a paz no mundo.
Sim, podemos decidir, e Deus nos convida a decidir pelo caminho certo: seguir a Jesus, por meio da Sua Igreja. Não O deixemos falando sozinho!
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Vixe, esse post ficou gigante. Pra quem teve paciência de ler até aqui, obrigada. E Sarah, valeu mesmo pelo comentário, gostaria muito que continuássemos dialogando. Suas observações acabaram expressando o que alguns de nossos leitores pensam, então foi uma bela oportunidade de refletirmos juntos.
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