Estamos quase no fim da Quaresma. Como discípulos, somos convidados a dedicar nossas vidas à missão do anúncio da esperança e à comunicação do amor e da vida, que é a glória de Deus. A “lei no coração”, anunciada por Jeremias, é o mandamento do amor comunicado por Jesus, que une a todos e traz a paz.
Estamos nos dias finais desse tempo de graça para aqueles que souberem acolher o convite de Deus em considerar a “saúde” de sua vida interior. Graça, da mesma forma, para toda comunidade, pois, com certeza, muitos de nós levaram a sério a proposta de cultivar a vida interior a partir do Evangelho, que indica uma mentalidade e um modo de viver e conviver com as pessoas. Trata-se, portanto, de uma celebração especial, no sentido que somos convidados a selar, a assinar esse empenho de cultivar a vida interior na ótica do Evangelho.
É hora de nos questionarmos: “Até que ponto assumimos o compromisso de viver como cristãos? Até que ponto estamos comprometidos com o plano divino de colocar o Espírito de Deus entre nós pela realização do projeto do Reino?”
Em que você coloca o seu coração? Com quem estabelece relações? Fazer aliança com Deus e viver de acordo com o projeto divino faz com que as nossas relações sejam firmes e douradoras, pois se trata de uma aliança assinada com a vida, com aquilo que representa a centralidade dela: o coração amoroso de Deus Pai.
Ser infiel a essa união é o mesmo que “rasgar” a vida, desperdiçá-la, perdê-la como diz Jesus no Evangelho: “Quem quiser ganhar a vida, vai perdê-la”. Quem quiser colocar, no seu coração, outro projeto que não seja o de Deus, perderá o sentido de viver. É por isso que, antes de iniciar a celebração, fazemos o ato penitencial.
Colocar Deus no coração, no centro da existência pessoal, não é tarefa fácil para nenhum de nós. Em nossos dias, as situações parecem mais confusas que outrora. Somos como aqueles que estavam com Jesus e ouviram a voz divina, mas não souberam identificá-la, achando que fosse voz de anjos, trovões ou algo assim. Há tantas vozes que falam e acabam nos confundindo ao invés de nos ajudar a identificar o projeto de Deus.
É preciso considerar a resposta que Jesus deu aos gregos, os quais queriam ver o Senhor para entender bem o sentido de “colocar Deus como centro da vida interior”. Se aqueles gregos queriam ver um Jesus “famoso”, “milagreiro” ou “pregador”, tiveram uma bela decepção!
Jesus fala que o compromisso com o plano divino é exigente, a ponto de termos de morrer para viver de outro modo. Isso exige desapego da própria vida, assumindo a mentalidade do Evangelho, ou seja, tomando para sim um compromisso exigente e só realizável por quem tem o Espírito de Deus dentro de si.
O Plano de Deus foi plenamente realizado por Jesus. Hoje, ainda continua a ser realizado pelos discípulos de Cristo que têm o Espírito Santo em seu coração, por aqueles que levam a sério a aliança assinada no dia do batismo, também por aqueles que não são cristãos “de nome”, mas assumem a mentalidade do Evangelho e fazem dele o seu modo de viver e agir.
Concluo com as seguintes perguntas: O que está no centro de sua vida interior? Qual a coisa mais importante que está em seu coração? O Espírito de Deus ou uma outra mentalidade ajustada a este mundo? Vamos pensar nisso, durante essa semana, para tomar uma decisão sincera sobre nosso modo de ser cristão a partir da Semana Santa.
Quaresma é tempo de preparação para a Páscoa. Duas são as atitudes fundamentais desse tempo para você e para mim: a conversão do coração e a solidariedade aos necessitados. A oração é o melhor meio para orientar a vida nesse caminho.
Padre Bantu Mendonça
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