Ontem, falamos aqui sobre a importância de promover na catequese o conhecimento sobre os aspectos históricos, artísticos e arquitetônicos da paróquia. Eu sei: essa iniciativa fica um pouco mais complicada quando a sua paróquia, bem longe de ser uma Catedral de Notre-Dame, tá mais pra salão de igreja evangélica ou auditório de convenções. Então, seja bem-vindo ao nada seleto clube dos frequentadores de paróquias feias.
Apesar de luxuosa, a minha paróquia é muito, muito feia (a foto acima não me deixa mentir). Eu amo aquele lugar, foi ali que Jesus me “pescou”, ali me crismei, batizei meus filhos e fiz amigos para a vida toda. Mas isso não anula este fato: o prédio é uma gigantesca amostra do mais puro mau-gosto modernista (muito diferente do estupendo modernismo catalão, de Gaudí). É bem verdade que os ambientes anexos são nota mil: há um grande e confortável auditório, além de ótimas salas para catequese, tudo muito bonito e bem refrigerado. Já o templo em si…
X Estação da Via Sacra: Jesus é despojado de suas vestes.
Por fora, a igreja é um bloco liso e retangular de cimento. Quem passa pela rua e não está devidamente informado, nem imagina que se trata de uma igreja católica. E, pra dar um toque de caos copacabanense todo especial, do outro lado da parede da capela de adoração ao Santíssimo Sacramento há uma sex-shop e uma casa destriptease (não, infelizmente não há nada que a igreja possa fazer para se livrar desta vizinhança).
Meus irmãos paroquianos e eu podemos nos gabar de possuir as representações da via sacra mais horrorosas do mundo. Vejam, ao lado, uma amostra (a Décima Estação), que não é nenhum colírio pros olhos… mas quando comparada à mesma representação feita por Tissot e Fra Angelico, fica mais dura ainda de apreciar.
As paredes dos presbitérios da capela do Santíssimo e da igreja principal são decoradas com umas tapeçarias bem estranhas, que o povo, em vão, fica tentando adivinhar o que significam. Há um grande vitral que ilustra “Jesus no Sermão da Montanha”, mas quase todo o mundo pensa que é Nossa Senhora perto da praia.
Porém, no meio de toda essa lama visual, dá pra garimpar muitas gramas de ouro puro. A história do surgimento da primeira capela nesse local é interessantíssima: foi iniciativa de um grupo de pedreiros baianos, devotos do Senhor do Bonfim. Hoje, sobre o altar-mor, há um crucifixo belo e comovente; quando eu era criança vi aquele Cristo uma única vez (minha família não frequentava muito a missa), e jamais o esqueci. Ficava penalizada ao pensar, em especial, na dor das chagas nos joelhos e ombros.
Enfim... BELEZA! O Pelicano no altar da capela.
O altar de uma das capelas laterais é decorado com um delicado Pelicano(foto ao lado), que arranca as penas do peito e alimenta os filhotes com Seu sangue; é o símbolo do Cristo que se sacrifica para que Seus filhos tenham vida. E o relevo na porta do sacrário(foto abaixo)? Contemplá-lo com carinho vale mais do que cem aulas de catequese: mostra os anjos, muito reverentes, recolhendo o sangue precioso que o Senhor derramou na cruz; do recipiente angelical, o sangue jorra mais uma vez, caindo sobre a Igreja.
A nossa sacristia é ampla e muito bem organizada. Lá ficam guardadas as belas imagens de Nossa Senhora das Dores e de Jesus Morto, que são levadas em procissão na Sexta-Feira Santa.
Enfim, com bastante pesquisa e muito amor, os catequistas podem ajudar os seus alunos a terem uma afeição ainda maior pelo espaço sagrado que os acolhe. É preciso cultivar no coração de todos o zelo pela beleza, que tem um enorme potencial de elevar as mentes para Deus.
Aos membros do clero que têm poder de decisão sobre os projetos de construção ou reforma de igrejas, fica um apelo: por caridade, risquem das suas agendas os nomes de arquitetos que não possuem nenhum conhecimento sobre a tradição e o significado de um templo católico. Também poderiam deixar de contratar pintores que gostam de imitar a Tarsila do Amaral. Assumo: tenho ânsias de vandalismo cada vez que vejo um santo parecido com o Abaporu.
ALTO-RELEVO localizado bem acima do sacrário.
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