A maioria dos cristãos, ao menos em algum período de sua vida, se conforma em viver uma fé medíocre, mesquinha, que pouco colabora para testemunhar a glória de Cristo ao mundo. Tocam suas vidinhaspreocupados somente com seus umbiguinhos, com seus estudinhos, com o seu amorzinho, com o seu trabalhinho, com os seus parentinhos, e permanecem surdos ao grito dos que sofrem.
Esse tipo de fiel pode até ser um católico devoto e praticante, mas que, no fundo, está sempre buscando a felicidade por meio de conquistas materiais, enquanto que a fé e a caridade ficam em segundo plano. Uma vez ao ano – e olhe lá – participa de alguma ação solidária, tipo “Natal sem Fome”, sente que já fez a sua parte e fica muito satisfeito com isso.
Por isso, sempre que alguém se candidatava a ser Seu discípulo, em vez de reagir com palavras doces e animadoras, Jesus colocava o sujeito na pressão. Era uma forma de espantar os bunda-moles, afinal, ser cristão é pauleira. Vejam este trecho do Evangelho de Lucas:
Enquanto caminhavam, um homem lhe disse: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que vás. Jesus replicou-lhe: As raposas têm covas e as aves do céu, ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.A outro disse: Segue-me. Mas ele pediu: Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai. Mas Jesus disse-lhe: Deixa que os mortos enterrem seus mortos; tu, porém, vai e anuncia o Reino de Deus.Um outro ainda lhe falou: Senhor, seguir-te-ei, mas permite primeiro que me despeça dos que estão em casa. Mas Jesus disse-lhe: Aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não é apto para o Reino de Deus. (Lc 9, 57-62)
Simpático o Mestre, não? Dá pra notar que Seu “esquema” de recrutamentopriorizava a qualidade, e não a quantidade. Ele não fazia como muitos padres e catequistas por aí, que só contam histórias bonitinhas e meias verdades para não contrariar nem constranger ninguém (santa covardia, Batman!). Jesus não temia a liberdade humana: “Eu sou o Senhor. Prometo te dar uma vida cem vezes mais plena do que a que você tem hoje, cheia de beleza e de sentido. Mas, ó, tu vai penar um bocado, vão pegar no teu pé por causa de Mim. Vai querer ou não vai? Se não gostou, a porta da rua é a serventia da casa!”.
O Cristo não dava colher de chá nem para aqueles que o seguiam desde o início. Falava umas coisas esquisitas de propósito, para chocar mesmo. Se o cara continuasse ao lado dEle mesmo depois de ouvir aquelas coisas, era porque O amava de verdade. Foi assim quando Ele disse que só entraria no Céu quem comesse Sua carne e bebesse o Seu sangue. A multidão, que antes O seguia com entusiasmo, gritou “ECA!!!” e saiu correndo. Quanto aos poucos discípulos que restaram, Ele os colocou contra a parede:
“Vós também vos quereis ir embora?”.Simão Pedro respondeu: “Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.”. (João 6, 67-68)
Esse é o nosso Mestre, no melhor estilo Capitão Nascimento: “Só terá a vida eterna quem comer minha carne e beber o meu sangue. Tá com nojinho? Pede pra sair!”. Quanta diferença em relação aos evangelizadores mamão-com-açúcar de hoje…
Por falar em nojinho, de arrepiar mesmo é a passagem do Apocalipse que ordena que os cristãos saiam de vez da mediocridade, enquanto é tempo:
Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. (…) Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te.Pois dizes: Sou rico, faço bons negócios, de nada necessito – e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim ouro provado ao fogo, para ficares rico; roupas alvas para te vestires, a fim de que não apareça a vergonha de tua nudez; e um colírio para ungir os olhos, de modo que possas ver claro.Eu repreendo e castigo aqueles que amo. Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te. (Apo 3, 13-22)
Para quem quiser refletir melhor sobre o tema, vale a pena comprar um bom livro sobre a vida de São Vicente de Paulo. Ele, que se tornou padre antes dos 20 anos, só pensava em ter uma boa vida e arrumar um dimdim para ajudar a sua família. De fato, não era um cara mau, era até gente boa, mas estava longe de ser santo. Depois de muito se lascar (“castigo aqueles que amo”), se deu conta de que ser sacerdote era muito mais do que fazer um sermão aqui e acolá e correr atrás de conforto e prestígio: era tornar presente o amor de Cristo aos pobres e sofredores. E, assim, ele passou de padre bunda-mole e caçador de benefícios a um dos maiores santos que o mundo já viu.
Que São Vicente de Paulo nos ajude a ter um coração grande, fiel e indomável como o dele!
Fonte: http://ocatequista.com.br/?p=5325
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