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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
O Diabo hoje – Parte 1
Georges Huber, jornalista católico francês, disserta sobre o demônio e sua ação no mundo. Ao mesmo tempo que afirma a realidade dos anjos maus, enfatiza estarem eles subordinados aos sábios desígnios da Providência Divina; o demônio pode ladrar, mas só morde a quem se lhe chega perto. O autor segue fielmente a doutrina da Igreja numa época em que se contesta o artigo de fé relativo aos anjos bons e maus.
Georges Huber é jornalista católico francês que se tem dedicado a escrever sobre os anjos. Após publicar duas obras sobre os anjos bons e seu ministério junto aos homens, oferece aos leitores um livro sobre o demônio e sua atualidade, seguindo fielmente as linhas da Tradição e do magistério da Igreja. A obra é apresentada pelo Cardeal Christopher Schoenborn, Arcebispo de Viena e um dos teólogos redatores do Catecismo da Igreja Católica. Este mestre bem sintetiza o conteúdo da obra em foco nos seguintes termos:
“O autor mostrou na sua obra sobre os anjos como estas esplêndidas criaturas espirituais estão totalmente às ordens da Divina Providência e como todo o seu ser consiste na adoração e no serviço de Deus. Esta mesma verdade encontra-se neste livro sobre Satanás. Porque os anjos caídos continuam a ser anjos; continuam a ser espíritos ao serviço de Deus, embora a contragosto.
A presente obra não suscita em nós medo aos demônios; antes revela a fé no irresistível poder de Deus, que ordena cada coisa para os seus fins. É o que a fé nos ensina e a experiência cristã nos confirma, Os demônios empreendem uma luta impiedosa contra o homem e se esforçam por obstruir os planos de Deus: percorrem o mundo incessantemente a fim de levar as almas à perdição. No entanto, a sua ação está completamente subordinada aos planos de Deus.
A partir desta verdade fundamental, Georges Huber demonstra-nos que, se Deus permite que os demônios atuem, não é certamente para fazer mal aos homens, mas para ajudá-lo a realizar os seus magníficos planos de salvação”.
Após esta sucinta apresentação da obra, sejam destacados alguns dos tópicos mais significativos da mesma.
A Conspiração do Silêncio
Como se pôde chegar a esta situação?
É a pergunta que fazia o Papa Paulo VI, alguns anos depois de se ter encerrado o Concílio Vaticano II, à vista dos acontecimentos que sacudiam a Igreja. Pensava-se que, depois do Concílio, o sol brilharia sobre a história da Igreja. Mas, em vez do sol, apareceram as nuvens, a tempestade, as trevas, a incerteza.
Sim, como se pôde chegar a semelhante situação?
A resposta de Paulo VI é clara e nítida: Interveio uma potência hostil. Seu nome é o demônio, esse ser misterioso de quem nos fala São Pedro na sua primeira Epístola. Quantas vezes não se refere Cristo, no Evangelho, a este inimigo dos homens? E o Papa precisa: Nós cremos que um ser preternatural veio ao mundo precisamente para perturbar a paz, para afogar os frutos do Concílio ecumênico e para impedir a Igreja de cantar a sua alegria por ter retomado plena consciência de si própria. Para dizê-lo brevemente, o Papa tinha a sensação de que o fumo de Satanás entrou por alguma fenda no templo de Deus.
Assim se exprimia Paulo VI sobre a crise da Igreja em 29 de junho de 1972, nono aniversário do seu pontificado. Alguns jornais mostraram-se surpreendidos com essa declaração do Papa sobre a presença de Satanás na Igreja. Outros escandalizaram-se. Não estaria Paulo Vi exumando crenças medievais que se julgavam esquecidas para sempre?
Uma das grandes necessidades da Igreja contemporânea
Sem recuar perante essas críticas, o Papa voltou a tratar do tema cinco meses mais tarde. E, longe de contentar-se com reafirmar a verdade sobre esse ponto, consagrou uma alocução inteira à presença ativa de Satanás na Igreja.
Logo de início, sublinhou a dimensão universal do tema: Quais são hoje – perguntava – as necessidades mais importantes da lgreja?A resposta foi clara: Uma das maiores necessidades da Igreja é a de de fender-se desse mal que designamos por demônio. A seguir, recordou a doutrina da Igreja sobre a presença, no mundo, de ´um ser vivente, espiritual, pervertido e perversor, realidade terrível, misteriosa e temível.
Depois, referindo-se a algumas publicações recentes (numa das quais um professor de exegese convidava os cristãos a liquidar o diabo), afirmou: ´Separam-se do ensinamento da Bíblia e da Igreja aqueles que se negam a reconhecer a existência do diabo ou aqueles que o consideram um princípio autônomo que não tem, como todas as criaturas, a sua origem em Deus; e também aqueles que o explicam como uma pseudo- realidade, uma invenção do espírito para personificar as causas desconhecidas dos nossos males.
Nós sabemos – prosseguiu o Papa – que este ser obscuro e perturbador existe verdadeiramente e atua sem descanso com uma astúcia traidora. É o inimigo oculto que semeia o erro e a desgraça na história da humanidade. É o sedutor pérfido e obstinado que sabe insinuarse em nós através dos sentidos, da imaginação, da concupiscência, da lógica utópica, das relações sociais desordenadas, para introduzir nos nossos atos desvios muito nocivos que, no entanto, parecem corresponder às nossas estruturas físicas ou psíquicas ou às nossas aspirações profundas.
Satanás sabe insinuar-se… para introduzir.. Estas expressões não nos lembram a advertência de São Pedro sobre o leão que ruge e ronda, buscando a quem devorar (cfr. lPe 5, 8)? Para se apresentar, o diabo não fica à espera de que o convidem; antes, impõe a sua presença com uma habilidade quase infinita.
0 Papa evocou também o papel de Satanás na vida de Cristo. Ao longo do seu ministério, Jesus qualificou três vezes o diabo como príncipe deste mundo (Jo 12, 31; 14, 30; 16, 11), tão grande é o seu poder sobre os homens.
Paulo VI empenhou-se em apontar os indícios reveladores da presença ativa do demônio no mundo.
Lacunas na Teologia e na Catequese
Na sua exposição, o Santo Padre tirou uma conclusão prática que, para além dos milhares dos fiéis presentes na vasta sala de audiências, se dirigia aos católicos do mundo inteiro: A propósito do demônio e da sua influência sobre os indivíduos, sobre as comunidades, sobre sociedades inteiras, faz-se necessário retomar um capítulo muito importante da doutrina católica ao qual hoje se presta pouca atenção.
Por outras palavras, a Cabeça da Igreja afirma que a demonologia é um capítulo muito importante da teologia católica e que hoje em dia é excessivamente esquecido. Existe uma lacuna no ensino da Teologia, na catequese e na pregação. E essa lacuna pede que seja preenchida. Estamos perante uma das maiores necessidades´ da Igreja no momento presente.
Quem o teria previsto? A catequese de Paulo VI sobre a existência e influência do demônio originou um inesperado sentimento de revolta na imprensa. Mais uma vez, acusou-se a Cabeça da Igreja ele retomar a crenças já ultrapassadas pela ciência. O diabo estava morto e enterrado! Raramente os jornais se haviam levantado com uma veemência tão ácida contra o Soberano Pontífice.
O Inimigo Desmascarado
Faz-se necessário retomar o capítulo da demonologia: este lema de Paulo VI teve uma espécie de precedente na história do papado contemporâneo.
Era um dia de dezembro de 1884 ou de janeiro de 1885, no Vaticano, na capela privada de Leão XIII. Depois de ter celebrado a missa, o Papa, como de costume, assistiu a uma segunda missa. Lá pelo fim, viram-no levantar a cabeça de repente e olhar fixamente para o altar, acima do tabernáculo. O seu rosto empalideceu e as suas feições tornaram-se tensas. Finda a missa, levantou-se e, ainda sob os efeitos de uma intensa emoção, dirigiu-se para o seu quarto de trabalho. Um dos prelados que o rodeavam perguntou-lhe:
- Santo Padre, sente-se cansado? Precisa de alguma coisa?
- Não – respondeu Leão XIII – não preciso de nada…
O Papa encerrou-se no seu escritório. Meia-hora mais tarde, mandou chamar o Secretário da Congregação dos Ritos. Estendeu-lhe um papel com um texto manuscrito e pediu-lhe que mandasse imprimir e o enviasse aos bispos de todo o mundo.
Qual era o conteúdo desse papel? Uma oração ao Arcanjo São Miguel, composta pelo próprio Papa. Uma oração que os sacerdotes recitariam depois de cada missa rezada, ao pé do altar, após a Salve Rainha já prescrita por Pio IX:
“São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso amparo contra a maldade e as ciladas do demônio. Instante e humildemente vos pedimos que Deus impere sobre ele. E vós, Príncipe da milícia celeste, com esse poder divino, precipitai no inferno Satanás e os outros espírito malignos que vagueiam pelo mundo para a perdição das almas.”
Leão XIII confidenciou mais tarde a um dos seus secretários, mons. Rinaldo Angeli, que durante a missa tinha visto uma nuvem de demônios que se lançavam contra a Cidade Eterna para atacá-la. Daí a sua decisão de mobilizar São Miguel Arcanjo e as milícias celestes para que defendessem a Igreja contra Satanás e os seus exércitos, e, de modo particular, para que se resolvesse o que então se chamava a questão romana.
Fonte: Revista Pergunte e Responderemos – Fev/2000, Brasil
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