Vamos entrar no túnel do tempo. Imagine que você está em 1912, e é um dos passageiros do navio Titanic. Em uma noite fria, o navio se choca em alta velocidade contra um imenso iceberg, e as coisas começaram a ficar um tanto… molhadas. Há meia dúzia de sacerdotes e centenas de católicos a bordo, inclusive você, doidinhos para receber o perdão sacramental dos pecados. Não vai dar pra ouvir os pecados de todo o mundo, certo?
Calma, Jack! Calma, Rose! Para esses momentos extremos existe o recurso daabsolvição coletiva.
De modo diferente da confissão individual, na absolvição coletiva o penitente é dispensado de contar ao sacerdote os seus pecados, mesmo os mais graves. Reunidos em grupo, os fiéis simplesmente pensam nos pecados que desejariam confessar e recebem, todos ao mesmo tempo, a absolvição. Demos o exemplo tosco do naufrágio pra deixar bem claro que isso só deve ser feito em situações raras, de modo totalmente excepcional.
Mas, infelizmente, tem um monte de sacerdotes abusando desse recurso, por preguiça de realizar as confissões individuais ou por leviandade mesmo. Esta semana, uma crismanda relatou à minha turma um episódio de que foi testemunha: em certa paróquia, o padre que estava atendendo às confissões avisou aos fiéis que precisava sair para um compromisso. Como não dispunha de mais tempo para ouvir individualmente as confissões de todos que estavam na fila, ele explicou que daria a todos uma absolvição geral. E, infelizmente, assim foi feito.
O que é “grave necessidade”?
Em 2002, o Beato João Paulo II publicou uma Carta Apostólica com o objetivo de fazer cessar esses abusos. Segundo ele, muitos padres deturpam o sentido do “requisito da grave necessidade”, justificando o uso da absolvição coletiva em situações em que ela não deveria ser aplicada. E isso acaba por trazer “graves danos para a vida espiritual dos fiéis e para a santidade da Igreja”.
Então, quais são ocasiões de “grave necessidade” que justificam o uso da absolvição geral dos pecados? São elas somente duas:
1. quando há um grande grupo de pessoas em risco iminente de morte, e não há tempo para que o sacerdote presente ouça a confissão de todos;
2. quando, em uma região isolada (onde o sacerdote só pode passar uma ou poucas vezes ao ano) ou de guerra, não há sacerdotes suficientes para ouvir um grande número de penitentes. Nestes casos, se não recebessem a absolvição geral, os penitentes ficariam obrigados a permanecer muito tempoprivados da graça sacramental e da sagrada comunhão.
Os critérios são bem claros e simples. Então, se você não estiver em nenhuma destas situações de grave necessidade e, ao buscar fazer a confissão, acabar recebendo uma absolvição geral, não se acomode. Busque outro sacerdote disponível para ouvir os seus pecados, da forma como se deve. Ainda que, para isso, seja preciso ficar afastado da Sagrada Comunhão por mais alguns dias (no caso de pecado mortal).
É bom notar que não se trata de uma regra dura e sem sentido, mas de uma orientação da Igreja que nos ajuda a tratar com a devida reverência o Sacramento que Cristo nos legou por meio de Sua morte sangrenta.
Seguindo esta dica, não tem erro: só quebre o vidro e aperte o botão da “absolvição coletiva” em caso de EMERGÊNCIA!
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