Jesus anuncia a Sua morte como consequência de toda a Sua vida. Enquanto isso, Tiago e João sonham com poder e honrarias, suscitando discórdia e competição entre os outros discípulos.
Jesus mostra que a única coisa importante para o discípulo é seguir o Seu exemplo: servir e não ser servido. Na nova sociedade que Jesus projeta, a autoridade não é exercício de poder, mas a qualificação para o serviço que se exprime na entrega de si mesmo para o bem comum.
Marcos – com grande habilidade – vai mostrando ao longo do relato evangélico as diferentes compreensões e reações que os ouvintes de Jesus vão manifestando, e nestas mostras de Marcos também estão incluídas as dos próprios discípulos.
Pois bem, reflitamos sobre o que aconteceu com Tiago e João: Marcos já havia anunciado que eles estavam a caminho de Jerusalém e Jesus ia adiante deles. Por via das dúvidas, Jesus recorda que não se trata de uma viagem de recreio à capital: pela terceira vez anuncia o que lhe acontecerá em Jerusalém. Jesus vai na frente. Nunca um mestre ia atrás de seus discípulos. Contudo, Marcos sublinha este detalhe não para dar a entender alguma posição privilegiada de Jesus. Prova disso é o que é dito no versículo 45, a autodefinição de Jesus. Ele vai na frente porque está convencido do que está fazendo. Considera que é o momento de aparecer em Jerusalém, de chegar até onde tem que chegar Seu ministério de serviço.
Expõe-se quem vai adiante. Os discípulos se assombraram. Iam atrás d’Ele, mas tinham medo. Somente depois do “final feliz” – a ressurreição ou glorificação de Jesus – aparecem Tiago e João para fazer a “reserva” dos postos mais importantes do Reino que Ele inaugurará.
No relato de Marcos, os dois irmãos falam diretamente com o Mestre. Em Mateus, o pedido inusitado é deixado para ser formulado pela mulher de Zebedeu. Qualquer crítica recairia sobre ela, teria sido ideia dela: a mãe (Ah! As mães…) Qualquer coisa, tirariam o corpo fora e ficaria por isso mesmo!
O que nos mostra a pretensão dos dois irmãos? Primeiro, que não entendem absolutamente nada do que Jesus quer instaurar. Passam por cima de tudo o que haviam visto e ouvido ao longo do tempo de formação com o Mestre. Em segundo lugar, as expectativas deles sobre o Reino de Deus – o reinado que Jesus pretende instaurar – têm já um modelo preconcebido em suas consciências, a ponto de não permitirem nenhuma modificação, não obstante tudo aquilo em que Jesus tanto insistira. Terceiro, para eles o modelo do reinado de Deus é uma versão aperfeiçoada dos reinos temporais. Quarto, no reinado de Deus, instaurado por Jesus, será mantido (achavam eles) o mesmo esquema de dominação da relação sócio-econômica: senhores e escravos, ricos e empobrecidos, dominadores e dominados. Quinto, não há compromisso nem ao menos intenção de envolvimento pessoal na instauração desse reinado, isso é competência do chefe, ele “arrisca a pele” e eles aproveitariam; quem vai beber o cálice é Ele.
A resposta de Jesus é simples: esse detalhe não lhe compete. Isso é decisão do Pai. Além disso, recorda-lhes que antes da glorificação é necessário beber o cálice, o “lançar-se nas águas” não admite recuo. Mais uma vez, Jesus tem de corrigir a visão triunfalista, nacionalista e militarista do messianismo. A nova era inaugurada por Jesus tem de prescindir de qualquer rastro de domínio.
Ingenuamente, os discípulos pensavam que uma mudança de dominador traria vantagens e benefícios pessoais e coletivos. Jesus corrige essa forma de pensar; por melhor que seja quem domina, a estrutura como tal continua sendo prejudicial.
O Messias pode ser o próprio Filho de Deus e até ser muito bom, muito santo, mas se seu reinado seguir o mesmo esquema de “dominadores/dominados”, senhores e escravos, aí não haverá santidade que valha.
Está aí, portanto, a novidade do Reino instaurado por Jesus. Seu reinado se exerce a partir do serviço e do entregar-se em prol dos dominados e dos escravizados pelos poderes temporais.
Se quisermos nos aproximar da instauração do reinado de Jesus não nos resta outra alternativa: renunciar a todas as estruturas e instâncias onde exercemos domínio e nos pormos a serviço dos irmãos. É a única coisa que pode garantir um pouco de credibilidade num mundo, dividido entre dominadores e dominados, entre senhores e servos.
Senhor Jesus, leva-me a escolher sempre o caminho do serviço feito na gratuidade, para eu me sentir grande junto de Ti.
Padre Bantu Mendonça
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