E aí meu povo,
Voltamos a tratar do meu, do seu, do nosso monge maluco preferido. O papai “spritual” de quase todos os cristãos desencaminhados, o Rei da falta de noção teológica, o primeiro cara a se aferrar com unhas e dentes na “bibra” (gostava tanto dela que, inclusive, fez uma do seu jeitinho). Com vocês, um pouco mais da vida e obra (principalmente “obra”) de Martin Luther.
Comecemos pelo contexto histórico. O fato mais importante desse período no qual estamos focando foi o óbito, em 12 de janeiro de 1519, do Imperador Maximiliano. Para Lutero, isso veio bem a calhar: por conta das problemáticas políticas advindas da sucessão imperial, o Papa Leão X teve o foco dos seus esforços desviados das questões eclesiásticas para a análise da política envolvida nesse processo.
O que hoje chamamos Alemanha, naquela época, tinha ainda agregada a si outros Estados da Europa Central,ou seja, era um grande balaio de gatos (clique aqui para ver o mapa). Nesse balaio, havia cerca e 300 “barões”, cada um mais metido do que o outro. O imperador do Sacro Império Romano-Germânico, ao contrário da maioria das nações, não era um cargo hereditário; o poder de império era concedido pelo “Colégio dos Príncipes Eleitores”.
Uma terça parte dos terrenos da Igreja estavam dentro do Sacro Império Romano-Germânico. Leão X, por sua vez, não quis se indispor com Frederico III, o principal defensor de Lutero, evitando inflamar ainda mais uma Alemanha já bastante tumultuada.
Foi nesse cenário que, em Leipzig (cidade em que viria a nascer futuramente o anão tortinho Immanuel Kant – uma espécie de cosplay de Tyron Lannister filosófico), o Duque Jorge da Saxônia deu voz, no Castelo de Pleisenburg, a um vivo debate entre Carlstadt e Eck.
Na célebre disputa de Leipzig, Andreas Carlstadt era o defensor das 95 teses de Lutero, e Johannes Eck era o promotor da Santa Igreja.
UFC: Eck X Lutero
O teólogo Johannes Eck era um gênio, um orador brilhante e muito impressionante; citava doutores da Igreja e a Bíblia sem o socorro de notas. Por outro lado, Carlstadt era um metido que se “achava”. Só que esse mané tinha sempre que recorrer aos seus alfarrábios ao longo do debate para se localizar. Eck o desconcertava. Então, dá para imaginarmos o quanto esse debate foi “fluído”.
A coisa já tava ficando muito chata e a platéia não devia mais aguentar tomar café com Redbull para aturar Carlstadt. E, quando Eck conseguiu que fosse proibida a consulta a notas durante o debate, o monge maluco veio socorrer seu defensor. Assim, em 4 de julho de 1519, Lutero assumiu o púlpito no lugar de Carlstadt. Foram18 dias de debate a partir desse momento.
Podemos falar mal de Lutero em muitos aspectos e de todas as formas possíveis, mas uma coisa não se pode dizer: que ele não conhecia a Bíblia. Mesmo assim, a superioridade intelectual de Eck sobre Lutero era absurda. Os principais pontos da disputa entre os dois foram: as indulgências, o purgatório, a penitência, a absolvição dada pelos sacerdotes, a primazia do papado e a inviolabilidade das regulamentações dos Concílios Ecumênicos.
Foi durante esse debate de 18 dias que Lutero pirou na batatinha de vez. Incapaz de rebater Eck, aferrou-se à Bíblia de um modo absolutamente fanático. Dessa forma, ouso afirmar que naquele Castelo da Saxônia nasceu o fanatismo cego da crentaiada – em especial dos pentecostais e neo-pentecostais – de hoje em dia.
Lutero cuspiu e desconsiderou completamente a Tradição da Igreja que o formou. Usou até Nosso Senhor Jesus Cristo para justificar os caprichos da sua mente doentia. Eck rebateu Lutero quando esse disse que a Igreja não precisa de um Chefe na Terra, afirmando que o próprio Jesus havia nomeado Pedro. Esse momento para mim é maravilhoso e histórico! Pois vejam, é desde 1519 que estamos esfregando a verdade na cara dos crentes e não adianta!
Possuído por seu amado Satanás, Lutero contra-argumentou com a (já velha, naquela época) falácia de que a Igreja não teve nenhum Papa por séculos, e ainda teve a cara de pau de pedir a Eck que este mostrasse na Bíblia que havia outros “Pedros”. Isso se deu há quase 500 anos; caso fosse nos anos 80 do século XX eu aconselharia ao Sr. Eck, depois dessa defecação mental, esquecer a teologia e aplicar o “Método Chuck Norris” de enquadramento de sem-vergonhas.
A cretinice de Lutero era complementada por sua teatralidade de mamulengo(algum dia você quis saber a origem do gestual ridículo, planejadamente inflamado e exagerado dos pastô evangélico no púlpito? Então… eis aí). Para todos os argumentos levantados por Eck, lá vinha o bobalhão com a mesma resposta:
– Só a Bíblia é infalível!
Assim fica fácil debater, né? Todas as indagações têm a mesma resposta. Aliás, todo crente, ainda hoje, seguindo o “Protocolo Lutero para discussões as quais você é idiota demais para vencer”, utiliza-se dessa resposta. E sempre saem rindo e arrotando superioridade. Essa lição patética foi muito bem assimilada e é a base da erística moderna. Também foi bem assimilada e aceita pela esquerdalha e pelos ateus. Entendem quando eu digo que essa turma toda tem o mesmo ancestral comum? Ao olhar para Lutero todos são condicionados a dizer: “papai!”.
Da mesma forma, gente como eu tem Eck como ancestral. Chegou uma hora que o cara perdeu a paciência e passou a responder:
– Então, sois pagão.
Criou-se em torno de Lutero a lenda de que era brilhante, um homem à frente de seu tempo. Bom, já deu pra ver que não era. Era mais o caso do filho de Satã certo na hora certa e, principalmente, no lugar certo. Mas, vamos às provas.
Além de genial, Eck era um tanto quanto ardiloso (gosto muito dele, é difícil não achá-lo fascinante). Em determinado momento, enredou Lutero de tal forma, conduzindo o peixe para sua rede com tanta facilidade, que chega a dar aquele sentimento de “vergonha alheia” por Lutero. Traçando um paralelo mais do que óbvio da heresia luterana com seu ancestral Jon Huss e deste como John Wycliffe, Eck deu seu xeque-mate.
Abrindo um parêntese muito rápido para falar de Jon Huss: ele pregava o “Sacerdócio Universal dos Crentes”, em que qualquer pessoa poderia relacionar -se com Deus sem a mediação sacerdotal e eclesial. Basicamente, Huss afirmava que o Papa errava. Já que o papa erra, vamos descer o cacete nos católicos. Poderosa essa lógica não? Faz muito sentido… O povo de Leipzig passou por poucas e boas nas mãos dos hussitas – seguidores de Jon Huss – que destruíram muitas propriedades por lá e por toda a Saxônia.
O “sábio” Lutero caiu no ardil de Eck e se danou todo: admitiu considerar corretas as heresias de Huss. Foi então que o Duque Jorge, católico devoto, chamou-o de maluco.
Para piorar a sua situação, ainda se atribui a Lutero a seguinte declaração, feita posteriormente, em referência a Eck:
– … a víbora inchou-se, exagerou o meu crime…
Ah! Que legal! O próprio Sr. Luther se admite criminoso! Eis aqui nosso réu confesso! Criminoso é criminoso meu caro. A pena se dá ao delito cometido, concordo, mas não é o próprio criminoso o mais capacitado para julgar o peso da mão. Acho que quanto a isso todo mundo concorda, certo? Mas o que importa saber aqui é que Eck vencera a contenda.
E o mi-mi-mi do monge maluco não parou por aí. Sem ter de quem reclamar, voltou sua retórica de pobre coitado contra o povo de Leipzig: ele ali não se sentia amado. Não é de partir o coração?
Desiludido mas muito mais louco do que anteriormente, Lutero foi chorar pitanga em outra freguesia. As atas da disputa foram enviadas para os mestres das Universidades de Erfurt, Paris, Lovaina e Colônia, que deveriam dar seu veredito. Os puxa-sacos do babão em Erfurt foram os únicos a calar, não deram resposta. Todas as outras esculhambaram Lutero. Foram detectados 26 “asserções falsas, escandalosas ou heréticas”.
Lutero foi chamado de apóstata e anatemizado pelos teólogos de Lovaina, a Atenas belga, uma das instituições de ensino mais importantes de toda a Europa.
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O nosso Especial Lutero continua. A seguir: porrada, tiro e bomba!
Fonte: http://ocatequista.com.br/?p=8777
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