O chamado – e consequentemente o envio – é uma tarefa que não se pode realizar no individualismo. O chamado é pessoal, a resposta também, mas o ministério, o serviço, deve ser entendido numa dimensão comunitária. Pois a Igreja é mistério de comunhão. E para que os apóstolos entendessem isso, Ele os envia em missão, dois a dois, colocando como centro a vida em comunidade na ação missionária. Este foi o espírito do Concílio Vaticano II: a missão na Igreja-comunhão.
A comunhão entre os fiéis – em seus vários estados e estilos de vida – faz com que a Igreja se sinta por dentro da missão de Jesus.
Para Marcos, no Evangelho de hoje, a missão dos Doze – portanto da Igreja hoje – é a mesma de Jesus. Cristo nos envia a pregar o Evangelho, a penitência, expulsar os demônios e a curar todas as enfermidades.
Em São Tiago, no lugar dos doze apóstolos estão os presbíteros, cooperadores na missão desses. Em lugar do envio direto de Jesus, temos a unção em nome do Senhor, isto é, de Cristo glorioso no Céu. Em nossos dias, os cooperadores, os enviados em missão somos todos nós. Leigos ou clérigos. Cristo nos unge e envia em missão para que todos os homens conheçam a Verdade e se salvem.
Ele nos pede, ao nos enviar, a comunhão, simbolizada pelo envio “dois a dois”. Que sejamos despojados de riquezas, ganância, orgulho, avareza e vaidade: nada tomar para o caminho, exceto um bastão, a coerência em uma conduta simples e humilde: não andeis de casa em casa, em uma conduta regida pela liberdade de espírito. Se em algum lugar não os receberem, sair e sacudir o pó dos vossos pés.
Ele ainda nos adverte: assim como as palavras de Jesus não foram bem acolhidas até pelos próprios parentes, assim também os doze na missão encontrarão dificuldades. Como não acolheram nem escutaram Jesus, assim algumas vezes também não escutarão aos doze. Quando falo deles, falo de mim e de você. Mas é preciso não perder o fôlego. É preciso que tenhamos bem presente que, com Cristo e em Cristo, somos mais do que vencedores.
Segundo João Paulo II, na Exortação Apostólica Redemptoris Missio, a missão confiada à Igreja está muito longe de ser atingida. Essas palavras podem ser pronunciadas em cada geração e em cada época histórica, porque é necessário estar sempre começando.
A única coisa que, nesta hora de Deus, não podemos fazer é cruzar os braços, estar sem fazer nada. Seria uma postura irresponsável e indigna de um bom cristão!
Livres para a missão. Para sermos “missionários” precisamos ser livres para aceitar essa dimensão própria da vocação cristã. Livres para responder a Deus com generosidade, sem laços de instintos e paixões egoístas; livres para seguir docilmente as luzes e os movimentos do Espírito Santo dentro de nós mesmos.
Precisamos ser livres de todo apego aos bens e meios materiais para nos apresentarmos com o Evangelho puro, sem alterações, livres de todo orgulho e ânsia de poder, com a consciência clara de que somos servidores do homem.
Precisamos estar equipados somente com um grande amor a Jesus Cristo, nosso modelo; equipados com o Evangelho feito vida, com a confiança em Deus e a esperança na ação do Espírito Santo no coração dos homens.
Como cristãos, somos chamados a abrir caminhos que para, pelo amor e por ele, rompam as cercas levantadas pelo sistema do poder, que gera ódio, vingança, injustiças, fome e morte de todos os homens e mulheres. E, nesta luta, não temos dia nem hora. O nosso Guia nos disse: “Meu Pai trabalha todos os dias e eu também trabalho”. Assim sendo, não temos que procurar descanso, a não saber que fazemos a santa vontade de Deus.
Senhor Jesus, ensinai-me a ser generoso, a servir-Vos como Vós mereceis. A dar-me sem medidas, a trabalhar sem procurar descanso, a gastar-me sem esperar outra recompensa, senão saber que faço a Vossa santa vontade. Amém.
Padre Bantu Mendonça
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