Desde o dia 13 de novembro os alunos da PUC-SP estão em greve, e dizem que permanecerão assim até que seja empossado como reitor o primeiro colocado na eleição interna. No dia seguinte, funcionários e professores também aderiram à paralisação. Eles exigem que Dom Odilo Scherer cancele a nomeação da professora Anna Cintra, terceira colocada na votação.
Clamando por democracia e repudiando o que eles afirmam ser um golpe, dezenas de alunos, funcionários e professores, reunidos em assembleia, declararam que não aceitam a decisão do Cardeal Arcebispo de São Paulo de nomear Anna Cintra. O atual reitor e candicato mais votado, Dirceu de Mello, diz que acata a decisão de Dom Odilo, mas se diz surpreso; afinal, ele foi indicado ao cargo pelo próprio prelado, em 2008. Dirceu também apoia a atitude dos grevistas: “Se eu fosse estudante, estaria procedendo da mesma forma”.
A greve, até o momento, está restrita ao campus Perdizes. Pra entender esse bafafá, é preciso que tenhamos clareza sobre alguns pontos. Vejamos um a um, a seguir.
Dom Odilo está exercendo um direito legítimo
Dom Odilo é grão-chanceler da PUC-SP e presidente do Conselho Superior da Fundação São Paulo, órgão que administra a universidade. No estatuto da PUC-SP está previsto que, após a votação feita por alunos, funcionários e professores, o grão-chanceler recebe uma lista com três candidatos, entre os quais deve selecionar um. E assim ele fez, nomeando a terceira colocada nas eleições, que foram realizadas em agosto.
A preferência da comunidade universitária é consultada, mas o cardeal não tem a menor obrigação de nomear o primeiro colocado na votação. É bem verdade que, historicamente, o grão-chanceler quase sempre disse “amém” para o resultado das eleições internas. Mas, como bem disse o professor Francisco Serralvo (que ficou em segundo lugar nas eleições), “todos os candidatos entraram no processo cientes das regras”.
Ao contrário do que os revoltadinhos querem fazer parecer, ninguém foi enganado, Dom Odilo não usou de nenhuma manobra escusa, não transgrediu nenhuma norma. Além de estar amplamente apoiado pelos estatutos da PUC-SP, o Cardeal tem ao seu lado aConstituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, em que João Paulo II decretou:
“§ 2. Cada Bispo tem a responsabilidade de promover o bom andamento das Universidades Católicas na sua diocese e tem o direito e o dever de vigiar sobre a preservação e o incremento do seu carácter católico.”(Ex Corde Ecclesiae, Artigo 5)
Terá sido esse zelo apostólico que motivou a decisão impopular de Dom Odilo? Aposto que sim.
Antidemocrático é se rebelar contra uma decisão legítima
Golpe é o escambáu! Golpistas são aqueles que desejam impor a Dom Odilo o papel de “bonecão do posto” ou “Rainha da Inglaterra”. Querem que ele fique lá, só de enfeite, sorrindo e acenando pra galera.
A maioria que votou pela reeleição do atual reitor tem todo o direito de comunicar a sua insatisfação por não ter a sua vontade acatada. Porém, é infame tachar de golpe uma decisão legítima.
É bom lembrar que ser democrático inclui respeitar as leis e normas estabelecidas pela sociedade e pelas instituições, reconhecendo as decisões das autoridades legitimamente constituídas. Então… quem realmente está sendo antidemocrático nesta história?
A PUC-SP é uma entidade particular e católica
Eu sei que é difícil entrar na cabeça desse pessoal (acho que o bonezinho do Che tem blindagem contra a renovação de ideias), mas dizer que a Arquidiocese não deve jamais interferir na gestão da universidade é tão absurdo quanto dizer que os acionistas majoritários de uma empresa qualquer não têm o direito de dar pitaco na sua administração.
Pra vocês terem ideia do nível do pessoal que está promovendo a insurreição, vejam só este trecho de uma declaração de um estudante de jornalismo da PUC-SP ao Jornal da Gazeta, sobre as motivações da greve:
– …em defesa dessa concepção de uma educação de qualidade, uma educação acessível (…), uma educação laica…
Acuma!? Educação laica? É muita empáfia e incoerência cobrar uma educação laica de uma universidade que é patrimônio da Igreja Católica (será que ele entende o conceito de patrimônio?). Tem gente que anda exagerando na dose de óleo de peroba que passa na cara.
A PUC-SP é uma entidade PARTICULAR e CATÓLICA. A princípio, os bispos locais buscam não interferir no governo interno da universidade, mas isso pode sim ser feito, sempre que for necessário. Quem não estiver satisfeito com essa condição é livre para deixar a universidade.
Caso a rebelião se instale de vez, talvez a melhor solução seja a Igreja se desvincular dessa universidade, conforme aconteceu com a (ex)Pontifícia Universidade (ex)Católica do Peru.
Assim como a PUC-SP, os professores, funcionários e alunos da PUCP rejeitavam a influência do Arcebispo de Lima na sua gestão. Quando o Vaticano viu que aquela budega estava definitivamente na mão dos ateus e liberais, simplesmente chutou o balde (não sem antes fazer muitos apelos e advertências). Desde julho deste ano, a Universidade do Peru está proibida de usar os títulos de “Pontifícia” e “Católica”, e está ameaçada de perder as suas propriedades, já que o doador do terreno da PUCP vinculou a herança ao seu uso por uma universidade pontifícia.
Estão renegando as raízes da universidade? Querem brincar de independentes e laicos? Pois bem. Que se virem sozinhos! Chega de permitir que o anticatolicismo seja divulgado com os recursos da Igreja. Este é o estilo de Bento XVI.
A “saia justa” da professora Anna Cintra
A professora Anna Cintra, candidata nomeada à reitoria pelo cardeal, assinou antes das eleições um papel em que dizia: “me comprometo a recusar qualquer indicação ao cargo de reitor caso não seja a primeira colocada na eleição deste ano”.
Essa é a típica “sinuca de bico”, em que se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Caso Anna Cintra cumpra a sua palavra e rejeite o cargo, estará contrariando Dom Odilo. Por outro lado, se assumir a reitoria, estará descumprindo a sua palavra, o que – vamos combinar – não é bonito.
Seja qual for a decisão da professora, ela terá que ser muito bem justificada, para diminuir os atritos e evitar que a atual crise piore.
Cadê os católicos da PUC-SP?
Não é possível que, em uma comunidade de quase 4 mil alunos e mais de 400 professores, não haja ao menos uma centena de católicos devotos (estou sendo pessimista). E aí, onde anda essa galera? Ainda respiram? Se esconderam nas catacumbas? Hoje, no Globo Repórter.
Pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, APAREÇAM, CRIATURAS, honrem o batismo que vocês receberam da Santa Igreja! Cadê as manifestações de apoio ao seu pastor? Cadê os cartazes, dizendo: “DOM ODILO, TAMO JUNTO, por uma PUC verdadeiramente católica”? Cadê os cristãos com sangue na veia? Será que só tem carola mosca-morta aí?
Levantem-se agora, irmãos, ou calem-se e sejam bundões para sempre.
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Agradeço demais ao leitor Wagner Campos, que nos apresentou a Constituição Apostólica Ex Corde Ecclesiae, documento que eu não conhecia.
FONTE: http://ocatequista.com.br/?p=7754
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