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quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Deus: amigo imaginário dos fracos?


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Os ateus costumam se gabar de não terem a necessidade de teorias religiosas para lhes dar consolo. Em geral, eles alimentam a convicção de são intelectualmente superiores àqueles que têm fé em Deus, o “amigo imaginário” que aplaca a angústia dos fracos que sentem medo e inconformismo diante da morte.
Cinicamente, muitos afirmam: “Eu tenho até certa inveja daqueles que têm fé… mas, infelizmente, não consigo tê-la”; na verdade, estão querendo dizer: “Reconheço que aingenuidade e a capacidade de acreditar em fábulas sobrenaturais têm lá as suas vantagens, mas eu prefiro ser racional até o fim e encarar as coisas como elas são, por mais duro que isso seja”.
Ui! Como ele é pragmáticoam, realistam e destemidoammm…
Há um filme que expressa muito bem essa ideia: “O Primeiro Mentiroso” (The Invention of Lying (2009)). A comédia mostra um mundo fictício em que todos desconhecem o conceito de mentira, são radicalmente honestos e sempre falam a verdade. Até o dia em que um homem, Mark, descobre as vantagens de mentir. Diante sua mãe moribunda, desesperada com o fato de que deixará de existir, ele inventa uma historinha sobre uma vida feliz e eterna após a morte. E, assim, acaba por criar a primeira religião da história (para conferir esta cena, clique aqui).
É bem verdade que muitos são os ateus convictos que, tendo a foice da Dona Morte apontada para as suas gargantas, se põem devotamente a rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria. E isso é confirmado por um estudo realizado este ano por uma universidade na Nova Zelândia: pensar na morte leva os ateus a vacilarem sobre a sua descrença (1).
Apesar disso, é muito superficial afirmar que a percepção religiosa da humanidade nasceu do medo da morte. Não! A percepção de um Ser poderoso que criou a realidade e do qual dependemos surge de uma intuição original dos homens. É elementar: olhamos o mundo, vemos a beleza e a engenhosidade das coisas, a diversidade e sabor dos alimentos, o cosmos… E tudo parece seguir uma ordem, uma lógica… O mundo parece que foi feito na medida para nos favorecer, para viabilizar a nossa existência.
Quem pensou o universo? Quem me fez? Quem arquitetou o mundo? Quem me deu essas coisas? Porque nasci para ver e experimentar e amar tantas coisas boas, se tudo é tão frágil, se serei privado de tudo isso a qualquer momento, e para sempre?
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Tirinha Enriqueta y Fellini
Para explicar melhor, vamos provocar a imaginação. Suponhamos estar nascendo, saindo agora do ventre de nossa mãe, mas com a consciência de jovens e adultos que possuímos hoje. Qual seria o primeiro sentimento, a nossa primeira reação ao ver o mundo? Se eu abrisse pela primeira vez os olhos neste instante, saindo do seio de minha mãe, ficaria maravilhado com as coisas que vejo. As coisas, que estão ali presentes e não foram feitas por mim, mas que são um DOM, que me foram dadas um “outro”, por alguém misterioso.
Quem não crê em Deus é indesculpável, dizia São Paulo, na Carta aos Romanos, porque deve renegar esta experiência original de percepção de um “outro”, que fez as coisas e que me fez. A criança vive sem dar-se conta disso porque ainda não está totalmente consciente; mas o jovem e o adulto que renega essa realidade é menos do que uma criança, é como que atrofiado.
Por isso, não há atitude mais retrógrada do que a de uma pretensiosa atitude científica em relação à religião e ao humano em geral. O ímpeto religioso dos homens não surgiu do medo; o primeiro sentimento das pessoas diante da realidade não é o medo, mas uma atração pelas coisas. A religiosidade é, em primeiro lugar, a afirmação e o desenvolvimento da atração das pessoas pela vida, pela beleza da existência. Só depois, vem o temor de que essas coisas desapareçam.
Do alto de sua arrogância e vaidade, é muito cômodo para os ateus afirmar que Deus faz o papel de um amigo imaginário, inventado para amenizar a aflição dos fracos; porém, as evidências históricas mostram que Ele é um Ser naturalmente “percebido” pela razão humana.
As religiões em geral e o conteúdo que elas apregoam, em sua maior parte, são sim fruto da imaginação humana. Seus mitos e preceitos refletem o esforço humano de contruir pontes precárias para alcançar o infinito, tal como no episódio da Torre de Babel (as exceções, é claro, são o judaísmo e o cristianismo, pois partiram de uma Revelação). No entanto, a essência de todas elas, que é a crença em Deus, está acima de tudo isso. Deus não é fruto do imaginário: Ele é um Ser reconhecido espontaneamente pela razão humana, em todos os tempos e culturas. Isso até os ateus sabem:
“A humanidade inteira segue uma religião ou crê em algum ser ou fenômeno transcendental que dê sentido à existência. (…) Todos os povos que deixaram registros manifestaram a crença de que sobreviveriam à decomposição de seus corpos.”
Dr. Drauzio Varella (no seu artigo “Intolerância religiosa“)
Temos que respeitar e rezar por aqueles que, sabe-se lá porque cargas d’água, sofrem de algum bloqueio que os impede de reconhecer aquilo que até os sujeitos peludos dos tempos do uga-uga reconheciam: o transcendente.
O que precisamos compreender com clareza é que, se Deus não existisse, a conclusão do físico Stephen Hawking sobre o nada após a morte estaria correta… E assim nossa vida teria tanto valor quanto ao de um computador que um dia virará sucata, ou de uma galinha destinada a virar recheio de empadão.
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Diversas partes deste artigo são recortes (ok, pode também chamar de plágio :-P ) de um texto do Padre Luigi Giussani, publicado no capítulo X de seu livro “O senso religioso” (Luigi Giussani. O Senso Religioso. Editora Universa, Brasília-DF, 2009).Para conferir o texto original do autor, clique aqui.
Nota:
(1) Site da Revista Veja. Pensar na morte aumenta fé de ateus, diz estudo. 02/04/2012

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