A Lei de Moisés, como nós a concebemos, é descrita nos livros bíblicos de Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Assim, para Jesus, a lei moral é obra da sabedoria divina. Por isso, podemos defini-la, em sentido bíblico, como uma instrução paterna, uma pedagogia de Deus. Ela prescreve ao homem os caminhos, as regras de procedimento que o levam à bem-aventurança prometida e lhe proíbe os caminhos do mal, que o desvia de Deus e do Seu amor. Eis por que Jesus diz: “o céu e a terra passarão”. Porém, nada será tirado da Lei, nem a menor letra nem qualquer acento.
A questão da obediência aos mandamentos divinos, ou tudo quanto Deus ordena, não visa à salvação, pois entra no campo da santificação e não da justificação. Entender o papel da lei como meio de salvação seria um uso “ilegítimo” dela (1 Timóteo 1,8).
O fracasso espiritual de Israel, que motivou sua rejeição como propriedade de Deus, não estava na lei, que é “perfeita, santa, justa, boa, espiritual e prazerosa” (Salmo 19,7; Romanos 7,12.14.22), mas na atitude de autoconfiança do povo quanto às suas possibilidades de obedecer-lhe plenamente.
Por isso é que Jesus, dirigindo-se ao povo, diz: “Não pensem que eu vim para acabar com a Lei de Moisés ou com os ensinamentos dos profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo (cf. Mateus 22,36-40). Assim, Ele ressaltou os princípios básicos da lei divina como sendo “amor a Deus sobre todas as coisas” e “amor ao próximo como a si mesmo”. Paulo confirma, em Romanos 13,8-10, que estes princípios sempre foram reconhecidos pelos cristãos como a síntese da lei divina tanto na linha “horizontal” ou seja, no amor ao próximo, quanto “vertical”, o amor a Deus.
Com pouca margem de erro, eu diria que há preceitos de caráter cerimonial, civil e moral na lei divina, independente de ocorrer tal linguagem “técnica” nas páginas bíblicas, fato reconhecido por confissões de fé e autoridades cristãs de diferentes confissões do passado e do presente. Em toda a Lei está a defesa da vida que, afinal, é um dom de Deus.
No sermão da montanha, bem como no diálogo com o jovem rico, Cristo, ao tratar do verdadeiro espírito da Lei, lembra que Deus leva em conta não só a mera obediência ao seu texto, mas as reais e íntimas intenções do indivíduo quanto a tal obediência.
Nenhum dos mandamentos da lei de Deus tem aplicação limitada a Israel. O próprio princípio do sábado foi estendido aos “filhos dos estrangeiros” (Isaías 56,2-8) e todas as pessoas de todas as nacionalidades têm necessidade de um dia regular de repouso, daí a razão de o “sábado ser feito por causa do homem” (cf. Marcos 2,27).
No novo concerto, os princípios básicos da lei divina são escritos por Deus no coração e na mente de Seus filhos, judeus ou gentios, nos moldes do que havia sido prometido ao antigo Israel em Ezequiel 36,26-27 e Jeremias 31,31-33.
De agora em diante, deve-se viver a novidade do Reino do Céu, que é a prática e o ensino das bem-aventuranças.
Padre Bantu Mendonça
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