“…desde o princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Porisso, o homem deixará seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher, e serão os dois um só. Portanto, já não são dois, mas um só. Pois bem, o que Deus uniu não o separe o homem.”De regresso a casa, de novo os discípulos o interrogaram acerca disto. Jesus disse: “Quem se divorciar da sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher se divorciar do seu marido e casar com outro, comete adultério.”(Marcos 10,1-12)
Quem poderá contestar estas palavras do Mestre? A doutrina do Evangelho sobre a indissolubilidade do matrimônio é claríssima. Por fidelidade a ela, a Igreja foiobrigada a perder um reino inteiro – a Inglaterra –, quando se recusou a declarar a nulidade do casamento do Rei Henrique VIII (que, então, chutou ou eliminou todos os católicos fiéis ao Papa do país e fundou a Igreja Anglicana).
E se engana quem pensa que os votos de um casamento “para sempre” escandalizam somente a sociedade contemporânea: quando Jesus disse essas coisas aos seusdiscípulos, eles ficaram bastante contrariados:
Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar! (Mateus 19:10)
Pelos motivos mais diversos, muitos casais não são capazes de cumprir os votos que fizeram no altar. Por isso, nas nossas paróquias e comunidades de fé, há muitas pessoas que carregam a ferida de um divórcio, e se sentem excluídas por terem se casado novamente e estarem impedidas de comungar.
Pontualmente, estes são os fatos:
- O plano de Deus é que, uma vez unidos pelo Sacramento do Matrimônio, os casais fiquem juntos até que a morte os separe;
- Em alguns casos muito específicos, a Igreja pode reconhecer, por meio do Tribunal Eclesiástico, que a união jamais existiu de fato, sendo o matrimônio nulo. Obviamente, a maioria das separações não se enquadra nestes casos específicos, e os casais não podem obter o reconhecimento de nulidade;
- Pessoas divorciadas podem, sim, comungar, desde que vivam emabsoluta castidade (sim, FOREVER ALONE, por amor a Jesus!);
- Uma vez tendo casado na Igreja, as pessoas divorciadas que tenham se unido a outra pessoa (seja por meio de namoro, casamento no civil ou ajuntamento)NÃO podem comungar, pois estão em pecado mortal.
Esse é um problema pastoral extremamente delicado. Por exemplo: certa pessoa, que acabou de se converter ou de se reaproximar da Igreja, está unida pela segunda vez há anos, tendo até mesmo gerado filhos na nova união. Não dá pra simplesmente virar pra ela e dizer: “Separe-se de quem você está agora e volte para quem você se casou primeiro”. A princípio, este será o melhor caminho, mas não se trata de uma fórmula matermática exata, capaz de solucionar todos os casos.
Que drama! O que fazer? Como orientar estas pessoas? Multiplicam-se os dilemas, as mágoas, cresce o sentimento de exclusão, e muitos não sabem o que dizer aos casais nessa situação. Como o próprio Papa disse recentemente, NÃO HÁ RECEITAS SIMPLES.
Na semana passada, Bento XVIencontrou-se com cerca de 350 mil pessoas na Festa dos Testemunhos, em Milão. As declarações do Papa nesta ocasião causaram escândalo a alguns, pois ele abriu a possibilidade de pessoas em segunda união poderem viver a comunhão espiritual com Jesus, ainda que não possam receber a Eucaristia.
Como assim, papitcho? Pessoas em estado de pecado mortal não podem estar unidas a Cristo e à Igreja de modo algum! Sim, é verdade! Daí a importância de alertar os fiéis – especialmente os namorados, noivos e casados – sobre a grande responsabilidade do matrimônio e a gravidade do divórcio, acompanhando-os também de forma preventiva. Entretanto, Bento XVI parece indicar que só Deus pode avaliar a fundo determinadas situações. É impossível julgar todas as família de segunda união aplicando a lei de modo farisaico. A princípio, estas pessoas estão, sim, em pecado mortal; porém, estas relações são tão complexas que pode haver aí “atenuantes” que só Deus conhece. Daí a possibilidade da comunhão espiritual, apontada pelo pontífice.
Confiram, a seguir, a pergunta feita pela família brasileira e a resposta do Papa.
Diálogo com as Famílias
Festa dos Testemunhos no Parque Bresso de Milão, Itália
Encontro Mundial das Famílias 2012
2 de junho de 2012
MANOEL ANGELO: Alguns desses casais que se casam novamente gostariam de se reaproximar da Igreja, mas vêem negados os Sacramentos a eles e a desilusão é grande. Se sentem excluídos, marcados por uma sentença definitiva (…).
Santo Padre, sabemos que estas situações e que estas pessoas estão muito no coração da Igreja: quais palavras e quais sinais de esperança podemos dar a eles?
SANTO PADRE: (…) Em realidade, este problema dos casais em segunda união é um dos grandes sofrimentos da Igreja hoje. E não temos receitas simples.
O sofrimento é grande e podem somente ajudar as paróquias, os indivíduos, ajudando estas pessoas a suportar o sofrimento deste divórcio. Eu diria que é muito importante saber, naturalmente, a prevenção, isto é, aprofundar desde o início, no namoro, numa decisão profunda, madura. Além disso, o acompanhamento durante o matrimônio, afim que as famílias não estejam nunca sozinhas, mas realmente acompanhadas em seu caminho.
E depois, quanto a essas pessoas, devemos dizer (…) que a Igreja as ama, mas eles devem ver e sentir este amor. Parece-me um grande desafio para uma paróquia, uma comunidade católica, fazer realmente o possível para que eles se sintam amados, aceitos, que não se sintam “fora”, mesmo que não possam receber a absolvição e a Eucaristia. Eles devem ver que mesmo assim vivem plenamente na Igreja. Talvez, se não é possível a absolvição na Confissão, todavia, um contato permanente com um sacerdote, com um guia espiritual, é muito importante para que possam ver que estão sendo acompanhados, guiados.
Depois, é também muito importante que sintam que a Eucaristia é verdadeira e participada se realmente entram em comunhão com o Corpo de Cristo. Mesmo sem o recebimento “corporal” do Sacramento, podemos estar espiritualmente unidos a Cristo no Seu Corpo. E fazer entender isso é importante, que realmente encontrem a possibilidade de viver uma vida de fé, com a Palavra de Deus, com a comunhão da Igreja e podem ver que o sofrimento deles é um dom para a Igreja, porque serve, assim, para defender também a estabilidade do amor, do Matrimônio; e que este sofrimento não é somente um tormento físico e psíquico, mas é também um sofrimento na comunidade da Igreja, para os grandes valores da nossa fé.
Penso que o sofrimento deles, se realmente interiormente aceito, pode ser um dom para a Igreja. Devem sabê-lo, que justamente assim servem a Igreja, estão no coração da Igreja. Obrigado pelo vosso empenho.
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