A figura de destaque, no dia de hoje, é o jovem cujo atributo é ser muito rico. Trata-se de alguém muito importante – humanamente falando – e que também poderia ser aproveitado para uma grande empresa como era o Reino de Deus. Parecendo que não, o episódio mostra que o Reino não só não consiste em bens materiais, como também exige o desprendimento deles. O diálogo entre Jesus e o jovem é profundo. Como profundo, exigente e amável é o olhar de Jesus ao qual Marcos se refere por três vezes.
O próprio jovem começa por colocar a questão mais profunda – a que ninguém se pode esquivar – a da Salvação: “Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?”Jesus olha novamente para o jovem e responde como se ele não fosse bom: “Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Você conhece os mandamentos: ‘Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho contra ninguém, não tire nada dos outros, respeite o seu pai e a sua mãe’”.
O jovem cumpria os mandamentos: “Mestre, desde criança eu tenho obedecido a todos esses mandamentos”. E por isso insiste: “O que me falta ainda?”
Se de um lado vemos a preocupação do jovem pela sua salvação, por outro lado vemos que não basta observar a Lei para ser apto ao Reino de Deus. Falta muito mais do que o jovem poderia imaginar: “Falta mais uma coisa para você fazer: vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim você terá riquezas no céu. Depois venha e me siga”.Faltava o desprender-se das riquezas, a entrega, a generosidade, a alegria profunda de dar e de “se dar” sem pôr condições.
A cena do jovem que se retirou triste oferece uma ocasião para Jesus voltar a expor a doutrina da pobreza evangélica e do desprendimento. Mas não se limita a insistir no perigo das riquezas para ser bom, à maneira de um sábio grego: “É impossível que um homem extraordinariamente bom seja extraordinariamente rico” (Platão). Jesus fala da impossibilidade de entrar no Reino de Deus, o que deixa os discípulos assombrados a ponto de se perguntarem: “Então, quem é que pode se salvar?”
Mas Jesus insiste e lhes indica a infalibilidade de Deus nas Suas promessas: “a Deus tudo é possível”, pois Ele pode conceder a graça de uma pessoa usar bem as riquezas ou até mesmo de renunciar radicalmente aos bens terrenos.
Exige-se de nós uma profunda reflexão do que somos e temos. Tanto ricos quanto pobres precisam ir à busca das coisas do Alto. Precisamos viver o desprendimento, independentemente do estilo de vida que levamos. Que aqueles que se fizeram pobres amem a sua pobreza, porque “deles é o reino de Deus”. Que aqueles que nasceram ou se tornaram ricos descubram o valor da misericórdia, da generosidade, da partilha, da solidariedade e, sobretudo, se lembre de que “de nada adianta ganhar o mundo, se depois perde a própria alma”.
Padre Bantu Mendonça
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