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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Católicos brutos também amam


brutos_tambem_amamVez por outra, nossos leitores – muitos simpáticos e amistosos, outros nem tanto – questionam o nosso modo de escrever às vezes um tanto… rude, digamos assim.Já disseram que a nossa linguagem é chula, que não é certo sermos tão “violentos”, que deveríamos defender o Evangelho de forma “mais civilizada”, que cristão não pode ser grosseiro etc.
Sem dúvidas, a polidez e a afabilidade são muito importantes. Porém, sempre que for oportuno para a defesa da fé católica, é quase uma obrigação violar as normas de etiqueta.
A Igreja também precisa de fiéis insolentes, que ridicularizem os discursos e ações dos relativistas, dos blasfemos, dos hereges e dos sacrílegos. Sim, façamos troça dos inimigos da Igreja!
Por outro lado, é preciso evitar a grosseria gratuita e generalizada, o coice instintivo e sem propósito. Lembremo-nos do que disse São Paulo:
É com brandura que deve corrigir os adversários, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento e o conhecimento da verdade, e voltem a si, uma vez livres dos laços do demônio, que os mantém cativos e submetidos aos seus caprichos. (II Tim 2:25-26)
Entretanto, a Bíblia deve ser considerada em seu todo, e cada passagem dentro de seu contexto. Quem nos dera que os ataques que a Igreja sofre fossem de tal ordem que nos permitisse sempre defendê-la com serenidade e gentileza!
O mesmo S. Paulo, por exemplo, era humilde e cortês na maior parte das vezes; mas, como todo macho viril, que tem sangue na veia (e não suco de morango), ele sabia baixar o porrete quando necessário. Diante de um escândalo que abalava a comunidade de Corinto, não mediu as palavras declarou que um tal pecador tinha que penar na mão do capeta:
Ouve-se dizer constantemente que se comete, em vosso meio, a luxúria, e uma luxúria tão grave que não se costuma encontrar nem mesmo entre os pagãos: há entre vós quem vive com a mulher de seu pai!… (…)
Em nome do Senhor Jesus (…), seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus. (I Cor, 5:1-5)
Nessas palavras do Apóstolo dos gentios podemos perceber o amor e a caridade, o zelo para que o pecado de um não arraste os demais membros da comunidade cristã para o erro. Ele deseja que o pecador sofra para que se salve, e não para que seja condenado. Um bom pastor sabe que precisa lutar pelas almas com unhas e dentes… E com palavras duras, se assim for necessário.
Mas os cristãos sentimentais só verão nessa passagem “julgamento”, “excesso de severidade”, “intolerância” ou qualquer outra expressão digna de gente frouxa.
UM DEUS QUE XINGA
Não há Ser mais doce no Universo do que o nosso Deus, Sua ternura é incomparável. Porém, diante das incessantes infidelidades do povo, que insistia em prestar culto aos falsos deuses, o Senhor não poupou impropérios: comparou o povo a uma esposa que se prostituiu, pra se deitar com qualquer um atrás das moitas (Jer 2:20).
Pela boca de Jeremias, Ele xingou Israel de “camela leviana” – o que, traduzindo para linguagem corrente, podemos dizer que é o equivalente a “vaca vadia” ou “cachorra safada”. Mandou na lata que os idólatras eram similares a uma “jumenta selvagem” no cio (Jer 2:24).
Quem levantará a voz pra dizer que o Altíssimo tinha que pegar mais leve, que Ele foi muito indelicado?
UM SANTO DESBOCADO
“Mas Ele é Deus, Ele pode. Porém nós, seus servos, devemos ser sempre amáveis com nossos adversários”. Ah tá. Vai dizer isso pra São Thomas More
thomas_more_lutero
Diante das imensas abobrinhas que Martinho Lutero havia dito sobre um tratado teológico escrito pelo Rei Henrique VIII, o santo já não via mais utilidade em rebater com argumentos. E escreveu a Lutero uma resposta com tantos palavrões que deixariam até a Dercy Golçalves de cabelo em pé:
“Enquanto continuardes decidido a dizer essas desavergonhadas mentiras, a outros será permitido que, em defesa de Sua Majestade Britânica, joguem de volta na vossa boca cheia de merda, verdadeiramente o depósito de toda merda, a sujeira e merda inteiras que vossa execrável podridão vomitou, e esvaziar todos os esgotos e privadas na vossa coroa despida da dignidade de coroa sacerdotal, em prejuízo da qual decidistes bancar o palhaço contra nada menos que a coroa real.” (1)
E não parou por aí! Em outra ocasião, S. Thomas More afirmou que Lutero era um “monge louco e cafajeste de mente imunda” (2).
Não é demais lembrar que estamos falando de um mártir. O cara era chanceler do rei da Inglaterra, tinha a vida feita, mas foi condenado à morte porque se recusou a apoiar o divórcio do monarca, permanecendo fiel até o fim à Santa Igreja.
E aí, alguém se candidata a passar um sabão na boca desse santo boca-suja?
CADA UM DÁ O QUE TEM
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Imagem do site http://mundocanibal.uol.com.br/
É natural que algumas pessoas não gostem do estilo “Chuck Norris” de evangelizar; ok, cada qual tem as suas preferências. Mas daí a dizer que Jesus só aprova os cristãos bonzinhos e de fala mansa… não há fundamento. Os profetas do Velho Testamento, o próprio Cristo, alguns Apóstolos e muitos santos foram ríspidos por inúmeras vezes.
Tudo tem seu tempo e lugar: em certas horas, é bem mais frutífero e sensato usar de mansidão; em outras, o melhor é arremessar sem dó as avaianas de pau!
Se você é católico e não tem o espírito combativo, beleza; na Idade Média ninguém era obrigado a ser Templário. Cada um serve a Jesus com o que é, cada um dá o que tem. Uns colocam a Seu serviço a inteligência, outros o dinheiro, outros o carisma, outros o espírito de sacrifício, outros o canto…
Nós de O Catequista, unidos aos católicos brutos de todo o mundo, colocamos aos pés do Cristo a nossa a rudeza e a nossa ironia. Toma, Senhor, esses toscos dons, purifica-os e faz deles o que bem lhe aprouver.
Somos quatro crianças zombeteiras e mal-educadas; sempre que pedires, estenderemos as mãos à Tua palmatória (pois é… Ele desdenha da lei da palmada). Mas, ó Bom Jesus, não nos tire a alegria de grudar chicletes no cabelo do capiroto!
Notas:
(1) Responsio ad Lutherum, em The Complete Works of St. Thomas More, ed. John M. Headley, vol. V, New Haven: Yale University Press, 1969, pp. 181 ss.
(2) Goldhill, Simon. Amor, sexo & tragédia: como gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Tradução Claudio Bardella. Rio de Janeiro, Jorge Zahar ed., 2007.

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