Um dos momentos da história em que mais podemos sentir a presença de Cristo e o valor de sua promessa no que diz respeito à Igreja é o Século VIII. Uma pena essa época tão fascinante ser tão pouco conhecida em nossa República da Banânia. É também o século em que a Espanha visigótica sucumbiu e, não fosse o esforço do Prefeito do Paço, Carlos Martel, hoje nós ocidentais comeríamos mais kibe e tahine do que o Habib’s seria capaz de fornecer.
Os cristãos penaram na mão dos mouros no séc. VIII. Não era brinquedo, não!
Vamos conhecer então os pontífices dessa época:
JOÃO VI – Eleito e sagrado no mesmo dia. E o bicho pegava: no Oriente e na Espanha os sarracenos passavam os infiéis(ou seja, os cristãos) no fio da espada. Alá, meu bom Alá!
O reino lombardo, quebrado ao meio, tinha o Duque de Benevento, Gisolfo I (nominho feio!), atacando os territórios da Igreja. João VI gastou uma fortuna em resgates para salvar o povo da fúria dos lombardos do sul. E mais ao sul rolava um cheiro de kafta no ar.
Por conta de seus esforços, João VI teve o povo ao seu lado quando o Imperador Tibério III quis colocá-lo no xilindró. Papa de 701 a 705.
JOÃO VII - João VII aquietou um pouco os lombardos.
Papa João VII
Devoto da Santa Virgem, ergueu várias igrejas em seu nome. Era um esteta, patrono das artes e construtor, restaurou muitas igrejas que estevam em frangalhos (acho que isso ficou meio óbvio, tamanho o número invasões que a Itália sofreu. Pior que isso só mesmo invasão da torcida do Curíntia).
Gostava muito de mosaicos e afrescos, e ainda existe um com sua imagem na cripta de São Pedro. Está sepultado na capela da Santíssima Virgem anexa á Basílica de São Pedro. Papa de 705 a 707.
SISÍNIO – Tinha 69 anos e estava muito doente quanto foi eleito. Um dos pontificados mais curtos da história, durou apenas 3 semanas. Foi consagrado em 15 de Janeiro de 708. Sofria de gota e não usava mais as mãos. Sua única medida foi reforçar os muros de Roma.
CONSTANTINO - Tinha uma tarefa em mente: estabelecer a reconciliação definitiva com o Oriente. Fez uma
viagem de um ano a Constantinopla e foi recebido com entusiasmo pelo Imperador, a quem concedeu a absolvição e a Santa Comunhão.
É um antepassado de João Paulo II nesses termos, porque ia aonde o povo estava mesmo. Visitou 62 comunidades (já imaginou se o Papa Constantino tivesse um
lierjet?).
E parecia que tudo ficaria bem com o Imperador. Mas como o que é bom dura pouco, duas semanas depois que voltou a Roma o Imperador Justiniano II, o nariz cortado, foi assassinado e substituído por Filípico Bardanes – um monotelista fanático. E tome guerra civil! O Imperador fez uma profissão de fé e exigiu que Constatino a assinasse. O Papa, lógico, recusa-se. Depois disso, o exarca de Ravena tentou fazer o Papa assinar a força. Só que o povo estava do lado do pontífice, e uma carnificina iníciou-se. A paz retotnou somente quando Anastácio II depôs Filípico e aceitou a ortodoxia. Constantino foi Papa de 708 a 715.
SÃO GREGÓRIO II - Depois de sete papas de origem síria, grega ou trácia (romênia), um romano é novamente eleito papa. São Gregório é um Papa importantíssimo e até que pouco estudado. A partir dele os papas passam a revindicar mais poder temporal.
Muitos historiadores o consideram o pontífice de maior destaque do século VIII. Persuadiu os lombardos a desenvolver importantes áreas dos territórios papais, o que viriam a ser os estados pontifícios futuramente. Levantou o povo de toda Itália contra os abusos da cobrança de imposto por parte do Imperador Leão III para sustentar suas guerrinhas na fronteira oriental. Salvou Roma, sozinha, de um cerco armado pelo exarca imperial e pelo Rei dos Lombardos.
Macho pacas, São Gregório II! Advertido pelo Imperador por meter o nariz onde não era chamado na visão daquele, teve novamente o povo consigo: de saco cheio dos impropérios do Imperador, pra bandas do Norte da Península Itálica iniciaram-se os levantes. São Gregório II olhou com carinho as tribos de feios, sujos e malvados germânicos ao norte, esquecidos e temidos como trombadinhas da Candelária por todo mundo que se dizia civilizado.
Este foi o primeiro Papa a se deparar e a combater o iconoclastismo, que condenava as imagens de santos (mais uma heresia gente, umas das preferidas de Lutero).
Entre outras obras, reconstruiu os muros de Roma, iniciou reparos para prevenir as enchentes do Rio Tibre, restaurou Igrejas, reconstruiu mosteiros e os repovoou além de introduzir a missa de quinta-feira na quaresma. Ufa! Esse Santo trabalhador foi Papa de 715 a 731.
SÃO GREGÓRIO III - Outro São Gregório, gente! Como seu antecessor, chegou ao trono nos braços do povão. Foi talvez o papa que mais lutou contra o iconoclastismo. Isso significa um Imperador chato enchendo os pacovás, já que o iconoclastismo tornou-se norma imperial.
Ilustração antiga: iconoclasta destruindo uma imagem de Cristo.
Vejam que coisa legal: já no século VIII tava excomungado qualquer um que chutasse imagem de santa ou santo… E não é que o Papa excomungou o Imperador e o Patriarca de novo? Essa gente pensava o quê? Só pra reforçar o que já tinha dito em outro post, para vocês leitores entenderem melhor: a Igreja Ortodoxa não vive sem um saco para puxar desde o seu nascimento, inclusive porque ela nasceu de uma puxada de saco!
E lá vem os gregos de Constantinopla tirar satisfações, e tome confusão com o exarca de Ravenna. Sem contar que o Imperador passou a mão num monte de propriedades da Igreja. Sozinho e desesperado, o Papa apelou para Carlos Martel, avô de Carlos Magno, e não conseguiu ajuda nenhuma. Mesmo com isso tudo, São Gregório não rompeu totalmente com os malucos do Oriente, pois tinha os lombardos ali doidinhos para fazer outro festival de gargantas cortadas na Cidade Santa. Era uma vida que nós não temos ideia do quão dura. Papa de 731 a 741.
SÃO ZACARIAS - Foi o último papa grego e o último a comunicar a Constantinopla sua eleição. Foi também um grande diplomata, pois conseguiu junto aos lombardos uma trégua de oito anos.
São Zacarias apoiou São Bonifácio da Germânia na sua missão de evangelização. Descobriu que mercadores venezianos faziam cristãos de escravos para vendê-los aos mouros e gastou uma grana preta pra comprá-los de volta. Atentem a isso: mouros negros fazendo escravos brancos; o instituto da escravidão não era nem nunca foi privilégio de brancos.
Papa de 741 a 752.
ESTÊVÃO II – Deve-se a ele um movimento fundamental da política e da diplomacia de toda história da Igreja. Depois de tantas guerras e invasões, o Império do Oriente andava mal das pernas. Coube ao Papa Estêvão II a guinada no leme.
Mas antes, vejamos um pouco da história pessoa desse Papa. Estêvão era um dos doze filhos de um trabalhador de olaria, que fez das tripas coração para dar à sua prole uma chance que ele mesmo nuca teve: colocou a molecada para estudar. Estêvão foi parar na escola patriarcal de Latrão e lá completou seus estudos.
Vigoroso e astuto, chegou ao trono de Pedro em uma situação bastante perigosa. Astolfo, Rei dos Lombardos, conquistou Ravena e botou o exarca e todos os bizantinos pra correr. Próximo passo? Roma. Estêvão cobrou do Imperador medidas retaliantes, e o xexelento, que mal se aguentava em pé, meteu o rabinho entre as pernas e saiu fora. Olha lá quem vem chegando para barbarizar a Cidade Santa… LOMBARDOS DE NOVO! Assim não pode, assim não dá.
O Papa Estêvão II recebendo a doação territórios feita pelo Rei dos francos, Pepino
De posse dos tratados que São Zacarias havia assinado com os lombardos, vestido como um mendigo e coberto de cinzas, Estêvão II liderou uma procissão às portas de uma Roma sitiada. O Rei Astolfo não se comoveu e ainda ameaçou o Papa . Este, sem recursos, apelou a Pepino, O Breve (um nome e um título realmente comprometedores; prefiro o original franco-germânico, Pepan), rei dos francos.
Pepino apoiou a causa do Papa prontamente e desceu os Alpes metendo a foice em quem via pela frente. Chutou Astolfo de Ravenna e de outras cidades bizantinas italianas e, através do tratado que assinou em Quierzy, doou-as ao Papa Estêvão II.
Assim foram criados os Estados Pontifícios, cuja proteção não era mais dos bizantinos, mas sim do Reino Franco. Por isso é que se diz que a França é a jóia da coroa Católica.
SÃO PAULO I – Um caso raro, São Paulo I era irmão de Estêvão II. Na nova realidade da Igreja, temos agora os papas lutando para manter o controle dos Estados Papais. São Paulo I foi o primeiro a ter que negociar com os vizinhos para consolidar seu poder temporal e proteger a população. Primeiramente, foi preciso negociar com o novo rei dos Lombardos, Desidério, para evitar a guerra.
Estamos também com uma nova realidade geopolítica em que o Império Bizantino foi retirado. É ao Rei Franco que São Paulo comunica sua eleição. Em resposta, Pepino solitou ao Papa que fosse padrinho de sua filha Gisela, irmã de Carlos Magno.
São Paulo I foi muito caridoso e dedicou-se aos menores dentre seu rebanho, sem nunca fazer alarde; não fosse a indiscrição de algum de seus colaboradores mais próximos, jamais saberíamos das muitas obras que esse grande homem realizou. Pagava dívidas, distribuia comida e roupa pelas casas. Morreu em paz depois de um pontificado de dez anos. Papa de 757 a 767.
ESTÊVÃO III - A mesquinharia e a cobiça humana marcaram os primeiros tempos do papado de Estevão III. Roma agora é um estado de terras aráveis, cobiçadas tanto por lombardos (que não largam do pé) quanto por árabes e bizantinos. Não é importante apenas por ser a capital espiritual do mundo, mas também porque agora possui importância temporal.
A cobiça descarada da soldadesca levou-a a aclamar um Papa fajuto e leigo chamado Constantino, que foi empossado na marra na Basílica de Latrão. Num arremedo de cerimônia, foi ordenado diácono e sub-diácono por três bispos na Basílica de São Pedro, em julho de 767. Seu irmão, uma espécie de “chefe da boca”, era sua garantia e seu defensor, pois controlava os soldados de Roma. Só que o bandidão foi assassinado e o pilantrinha teve que fugir.
Pensou que acabou? Nada. Olha só que vem chegando… Lombardos. Resolveram que, em vez de bater de frente com o reino franco peitando o Papa, fariam eles mesmos o papa; resolveram colocar no Vaticano um tal de Filipe, um capelão do mosteiro local. Havia um notário chamado Cristóvão que tornou-se “eminência parda” do papado de Estevão III. Tendo em vista essa bagunça, determinou-se que ,dali em diante, só cardeias poderiam ser Papas, banindo os leigos definitivamente.
Os dois antipapas foram presos e despojados de suas ensígnias. Estevão III foi eleito graças às articulações de Cristóvão, que passou a ser seu principal conselheiro. Após sua eleição, Estevão III comunicou-a ao Rei franco Pepan III. Tendo em vista que seu papado foi basicamente uma série de equívocos administrativos, em virtude principalmente da atuação de Cristóvão, não temos muito mais a acrescentar a respeito de Estêvão III. Papa de 768 a 772.
Papa Adriano I
ADRIANO I - Foi um papa corajoso e peitudo. Os lombardos e os bizantinos, desde o começo de seu pontificado, estavam fazendo pressão por todos os lados. A principal questão diz respeito à sucessão do reino franco. Desidério, rei dos lombardos, estava doidinho para que o Papa confirmasse a sucessão de Carlomano, irmão de Carlos Magno, como sendo do filho do primeiro. Afinal, uma criança seria muito mais fácil de derrotar do que um homem feito, ainda mais que o homem feito em questão era nada mais nada menos do que Carlos Magno.
Tentando manter o seu fora do alcance da seringa, Desidério contratou uma cambada qualquer para atacar Roma. Só que o Papa sabia muito bem quem estava por trás dos ataques e apelou pro Carlitcho. Este foi para Roma na Páscoa de 774, perguntou “Qui qui tá pegando?”, renovou a doação dos Estados Pontifícios e chutou Desidério e suas pretensões por cima dos muros de Roma. Melhor ainda: demarcou as fronteiras. Roma começava a fica bem na fita.
O Papa Adriano reconstruiu Igrejas, reforçou (de novo) os muros da cidade, reconstruiu (de novo!) as barragens do Rio Tibre e reestabeleceu quatro aquedutos. Fora isso, dedicou-se aos pobres e à administração das fazendas que estevam sobre a suserania do Vaticano. Promoveu várias ações sociais e favoreceu o desenvolvimento do monaquismo.
Curiosidade: Adriano I procurou defender a Igreja de todas as formas, mas vejamos essa “gentil” oferta feita por Carlos Magno. Ao viajar pela Itália, o Grande Rei percebeu a grande depravação do clero – prostituição, tráfico de escravos, cafetinagem, jogatina etc. – daí perguntou ao Papa se não podia passar umas espadas nas goelas do clero corrupto… Apenas como aviso que aquilo ali não era “The Mother Joan’s House“. Adriano ficou nervoso e falou para o grandalhão (Carlos Magno tinha quase dois metros de altura) que aquilo era mentira. Como o Rei sabia que na sua França natal não dava para por a mão no fogo pela rapaziada, deixou o assunto morrer.
Voltando a questões doutrinais. Foi durante o pontificado de Adriano I que realizou-se o Concílio de Nicéia II, que a princípio seria em Constantinopla, e onde se discutiu a questão do iconoclastismo. Resultado:
devia-se repor as imagens nos templos, mas não se devia prestar-lhes o culto que só a Deus é devido. Às imagens pode-se prestar veneração e respeito… Elas são apenas figuras que nos lembram pessoas santas. Dãããããããã!!!!!!!!!!!. E se algum crente te echer o saco com essa história, saiba como responder
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Um fato pouco mencionado do papado de AdrianoI foi a vinda a Roma de Offa, rei da Mércia, um cara cheio de pecados que, em troca da absolvição deles, prometeu ao Papa que mandaria uma grana para Roma todos os anos. A Mércia é um pedaço da Inglaterra e essa tradição permaneceu depois da unificação, sendo rompida somente nos tempos de John Wicliffe. Wicliffe para quem não sabe, é um dos antepassados nefastos de Lutero e Calvino, um mal ambulante do qual falaremos no momento certo.
Para terminar, durante o papado de Adriano I surgiu uma das mais bizarras heresias da História – o “adocionismo” – que dizia ser Jesus filho adotivo de Deus. Adriano deve ter pensado; “eu mereço!”. Depois de um longo papado de 23 anos, partiu Adriano, um grande papa, amigo do Rei, literalmente, e um defensor verdadeiro de Jesus e da Igreja. Papa de 772 a 795.
No próximo post, veremos o século IX – o auge do poder carolíngio. Nosso primeiro papa é um dos mais interessantes: Leão III.