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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Carlos Magno, Fundador do Ocidente

Afinal, quem é esse tal de Carlos Magno?
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Não é exagero dizer que Carlos Magno fundou o Ocidente.  Mas ele não fundou sozinho: precisou da Igreja para lançar seus alicerces e levantar suas colinas.  Outra vez:  “Malditos Cristãos!”. Quando eu digo Ocidente estou fazendo referência a toda a cultura que nos cerca, absolutamente tudo, inclusive as influências externas que bombardeiam todos as sociedades construídas com a base dos povos europeus.  O Ocidente, em todos os sentidos, para o bem e para o mal, é a cultura do povo de Cristo, motivo de sobra para os ateus se rasgarem.
Ao longo da estrada que segui, estudando a História Medieval – num país que mal entende o que esse termo quer dizer –, percebi que muitos grandes personagens são colocados em segundo plano, em prol de mistérios e bobagens que beiram o místico (não nego seu caráter encantador e chamativo, principalmente aqueles que evocam a mística do herói em busca de redenção) como Robin Hood e o Rei Arthur.  Talvez o maior desses renegados seja Carlos Magno.
Hoje em dia parece que só os historiadores importam-se em entender aquele tempo e o seu legado, e muitos dizem: “E daí? isso é uma velharia que não interessa mais.” Grande, grande erro. Entender o mundo carolíngio é entender parte de sua herança, entender melhor seu presente e vislumbrar uma janela para seu futuro, tamanha a complexidade dos fatos que ocorriam no caldeirão do final do século VIII e início do século IX.
Pergunto-me se o limbo ao qual a “burritzia” condena Carlos Magno não advém do fato de que ele era, acima de tudo, um “maldito cristão”, que manteve um estreita relação com o papado ao longo de seu reinado. Ou será que ninguém percebeu que o Rei Arthur é pagão até a medula e Robin Hood quase sempre é retratado como uma espécie de comunista que daria orgulho ao Frei Betto?
Mas chega de viajar, vamos falar do grandalhão (tinha quase dois metros de altura) Carlos.
DO NASCIMENTO À SUBIDA AO TRONO
Em 756 Quilperico III (eita nome feio!), último dos merovígios, foi devidamente encaminhado a um mosteiro pelo filho de Carlos Martel, Pepan.  Pepan viria a ser o pai de Carlos Magno, Rei dos Francos, de glória imercesível.  Nasceu Carlos em 2 de abril de 742. Sua mãe era chamada Berta, conhecida como “a dos grandes pés” (devia ser meio desagradável ter uma mãe conhecida como Berta pezão ou Berta Sapatão não acham?) que era filha de Caliberto, o Conde de Lyon.  Carlos foi entregue por sua mãe a preceptores católicos, de quem aprendeu os princípios da fé que nunca mais abandonaria.
Carlos contava 24 anos quando seu pai, Pepan, veio a falecer.  Subiu então ao trono ao lado de seu irmãos mais velho, Carlomano. Rolou, claro aqueles barracos típicos de família, e não saberíamos dizer qual teria sido o desfecho dessas disputadas não houvesse Carlomano falecido em 4 de dezembro de 771, deixando apenas filhos menores que foram despojados de seus direitos sucessórios e de sua grana pelo titio Carlos grandalhão.
Fisicamente, parecia ser um tipo magnífico, alto, ruivo, um tanto quanto narigudo, mestre em caça e natação. Um viking arrumadinho por assim dizer, capaz de quebrar seu pescoço com um pensamento. Não usava barba, apenas bigode.
PRIMEIROS FEITOS
Quando Carlos assumiu o trono, a situação fronteiriça do reino franco era a seguinte: a leste os pagãos saxões estão apertando o garrote, além dos Alpes nossos velhos conhecidos, os lombardos, estavam querendo meter a mão em tudo que fosse da Igreja.  Para pensar: em 772 Carlos Magno destruiu um grande chefe da rapaziada saxônica. Irminsul, e em 775 lança uma guerra total contra os saxões para convertê-los ao catolicismo.  Em 776 chega a Paderborn, e então nossos amigos saxões converteram-se ao catolicismo.
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Carlos Magno vindo ao socorro do Papa Adriano I, ameaçado pelos lombardos.
Por outro lado, Desidério, rei dos lombardos, continuava desacatando a autoridade papal.  Em junho de 773, Carlos atravessou por Monte Cernis os Alpes e viajou para Roma para bater um papo com o Papa Adriano I, que esperava ansiosamente pelo seu auxílio.  Dali, foi a Pávia “trocar uma ideia” com Desidério. Chutou o r$%#%#%%abo do dito e sentou-se no trono dele.  Em 775 os lombardos entraram em atrito com Carlos novamente, que atravessou os Alpes muito fulo da vida e a partir de Frioul tocou fogo em qualquer coisa que lembrasse minimamente um lombardo.
Mas os projetos de Carlos eram ambiciosos, e ligados a seus planos políticos e militares era intimamente  o seu projeto religioso e a grandeza que almejava para a Santa Igreja.  Um deles foi expulsar a galera de turbante para além da linha do Rio Ebro (que fica no Norte da Espanha).  Até seu reinado a turma do falafel estava restrita aos Pirineus, o que era um perigo.
Estrategicamente, foi brilhante.  Mas não é só de vitórias que se faz a história de uma lenda.  Uma narrativa interessante diz que o exército carolíngio foi vencido por tropas basco-navarras em Roncesvales, onde teria falecido o Conde da Bretanha Rolando – da célebre Canção de Rolando.  Tão amarga derrota selou o destino dos Pirineus nos tempos de Carlos Magno. De certa forma, selou também o destino da Espanha, deixada de lado durante a Idade Média, perdida em lutas comezinhas que só viriam a findar em 1492.  Portugal, claro, seguiu a mesma barca da Espanha, mas saiu mais cedo.  Mais detalhes em futuro próximo.  Carlos cria a chamada “Marca Hispânica”, enche o lugar com seus cães de guarda mais bravios e, a partir de então, os árabes nunca mais avançaram pela Europa através dos Pirineus.
Mas o grande projeto político-militar de Carlos era a conquista e pacificação da Saxônia e da Península Itálica.  Alemão é metido a brabo; é um povo do tipo que tenta resolver tudo sozinho.  A união dos francos sobre a cruz contra os bárbaros piolhentos foi fundamental.  Essa guerra franco-saxônica gestou um dos inimigos mais virulentos de Jesus, um bárbaro saxão chamado Witikind – pagão, cruel, agressivo e provavelmente torcedor do Vasco da Gama.  Sua raiva anticristã o fez matar e torturar de tal forma que horrorizou os francos, e horrorizar os francos é algo a ser considerado.  Carlos mandou então um sonoro: “Ah, é?”, e depois, em Verdene, cortou 4500 cabeças saxônicas.  Daí em diante, Carlos pegou pesado, muito pesado.  No final das contas, em 785, o dito Witikind entregou-se e foi batizado, terminando os seus dias como um bom cristão.
No segundo especial dessa série, falaremos da Campanha de Carlos na Itália e de suas grandes realizações.  Amanhã, não percam.

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