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sábado, 10 de dezembro de 2011

Carlos Magno, Fundador do Ocidente parte (II)

E então meus amigos,
Cumprido seu objetivo na Saxônia, Carlos voltou suas atenções para a Itália.  O Papa solicitou sua ajuda para dar um jeito nos lombardos do Sul da Península.
O problema era o Ducado de Benevento que, na prática, era um reino.  Arichis, o Duque, ao ver o exército de “Big Charles”, tremeu nas bases e prometeu ao mesmo um tributo anual de 7000 moedas de ouro.  Confiando na palavra do crápula, Carlos voltou para casa.  Mas mal havia se retirado, Arichis foi puxar o saco do Imperador Bizantino e voltou a sentir-se “o Rei da Cocada Lombarda”.  Pelo que já vimos até agora, dá para perceber que Carlos não era do tipo que deixa barato.  Voltando à Itália, na Calábria, mandou Arichis – como diria o saudoso Alborghetti – pro colo do capeta.  Grionaldo, filho de Arichis, foi obrigado a manter os acordos firmados e ainda por cima passou recibo de perdedor ao cunhar moedas com a efíge de Carlos.
Faltava a galera de tamanco.  Os bávaros (holandeses) andavam cantando vantagem sobre o poderio do exército de Carlos. Tossilo desafiou os acordos firmados com os francos por seu pai Odilão.  Quando Tossilo viu o tamanho da…. tropa de Carlos, nem perdeu tempo, voltou atrás e jurou fidelidade a “Big Charles”.  Só que, como Arichis, Tossilo se achava “ixperto”.  Carlos, já escaldado por causa da campanha da Calábria, acusou de Rerisliz (alta traição), e destituído.  Tempos depois, em 794, o Concílio de Frankfurt sentenciou a anexação dos territórios bávaros aos domínios francos.
Carlos Magno, após essa campanha, queria iniciar a organização de seus territórios.  Não deu: eslavos e ávaros pagãos estavam espalhando-se pela Polônia e pelo médio Danúbio.  O bravo Carlos foi a luta mais uma vez.  Contra os eslavos a coisa se resolveu de uma forma mais fácil, com o rio Elba servindo como área limítrofe (vocês ficam aí, eu fico aqui).  Os ávaros eram muito mais chatos e selvagens; contra eles, Carlos travou oito anos de luta feroz.
Carlos ainda deu um tremendo azar.  Em 791, durante a batalha de Winerwald, a sua cavalaria foi assolada por uma epidemia (não se sabe especificar qual era a doença).  Sem cavalos, Carlos foi obrigado a se retirar.  Quatro anos mais tarde, Érico e Pepan, filhos de Carlos, atacam o ring (fortificação principal dos ávaros) do Khan ávaro. Deu certo, mas o ávaros continuaram perturbando a paz e a ordem até 799, quando sua derrota extingui-os como nação.  Um bom exemplo de que a verdadeira sabedoria é saber a hora de parar.
UM TRONO ABENÇOADO PELO PAPA
Chegou um momento em que Carlos, cansado das guerras, resolveu curtir a vida adoidado.  Instalou-se no vilarejo de Aix-la-Chapelle, um lugarzinho com fontes termais e florestas onde o Rei poderia caçar.  Embora continuasse a ser o senhor absoluto de suas terras, a administração passou a seus filhos Pepan e Luís, que governavam respectivamente a Itália e a Aquitânia.
Todos os súditos francos deveriam, aos 12 anos, prestar juramento sobre relíquias de santos, de obediência e fidelidade. Isso se deveu principalmente à intervenção da Santa Igreja, uma vez que a unção dada pelo Papa Leão III imprimiu-lhe (ao trono) caráter sagrado e inviolável.  Foi o primeiro rei a intitular-se “pela graça de Deus”.  Politicamente, isso não foi pouca coisa.
Charlemagne_Aix_La_Chapelle
Carlos Magno acompanhando a construção de uma igreja em Aix-la-Chapelle.
CARACTERÍSTICAS INTELECTUAIS E ESTILO DE GOVERNO
Carlos foi um homem raro em muitos aspectos.  É famoso o fato do Imperador ser analfabeto.  Bem, a questão é a seguinte: Carlos não sabia ler.  Porém, mestres de grande cultura como Paulo Diácono, Alcuíno e o espanhol Teodulfo instruíram Carlos que, embora fosse um guerreiro marrento, adorava poesia e a beleza das artes clássicas.  Aliás, artes estas que ressurgiram durante seu reinado.
Carlos sabia falar romanche e tedesco – línguas que originaram o francês e o alemão  – sabia bem o latim e entendia grego.  Palestrava sobre problemas filosóficos e religiosos como poucos, e era tido como grande orador.
Apesar de tudo, Carlos era um homem que se vestia como macho, sem frescuras.  Adorava carne e suas refeições tendiam ao frugal.  Não era um déspota e governava ouvindo seus vassalos.  Anualmente, durante a Assembléia celebrada nos campos de maio, com representantes das 300 circunscrições em que estavam divididas as terras de seu Im
pério, o rei submetia à consideração medidas que acreditava ser de interesse da nação.  Foram nessas assembléias que constituíram-se as suas famosas Capitulares.  Foi na Corte de Carlos Magno que se introduziu os “doze pares de França”, cuja lenda é responsável por todos os romances de cavalaria que culminam com o “Dom Quixote” de Cervantes (isso por si só é outro post, aliás, vários).
UM DEFENSOR DA FÉ CRISTÃ
Office
Carlos Magno rezando o Ofício Divino antes de uma batalha.
O título preferido de Carlos era “O Pacificador”. Como rei cristão por excelência, recomendava constantemente a todos uma vida de paz e concórdia, respeitando-se com caridade e justiça.  Tanto que quem quebrava a ordem pública na mesma hora ia ao xilindró.
Carlos tinha a percepção que nada firme e duradouro pode se construir sem Cristo, e seu objetivo de vida manter a unidade e integridade da fé cristã.  O estado franco foi dividido em dioceses no âmbito religioso.  Os bispos eram funcionários do estado carolíngio.
Nesse aspecto, temos um Imperador que buscava controlar suas armas espirituais como controlava suas armas militares.  Ele convocava seus próprios concílios, e, embora os resultados destes só pudessem ser homologados pelo Papa, tal autonomia gerava incômodo.
Carlos exigia que seus súditos soubessem o Pater e o Credo e que não perdessem os ofícios de domingo.Arvorou-se até como inquisidor, dizimando as práticas pagãs que ainda existiam na França e na Alemanha.  Contemporâneo ao iconoclasmo e ao adopcismo, Carlos tomou partido contra essas heresias, perseguiu os sequazes de Fócio e condenou Félix, bispo de Urgel.  O caráter passional de “Big Charles” fez com que muitos temessem que Roma mergulhasse em uma nova faceta do césaro-papismo.
PROMOVENDO A EDUCAÇÃO
Intelectualmente, muito se deve a Carlos, pois em seu governo foram lançadas as sementes das futuras Universidades.
Vivia-se quase que em total ignorância nas terras fora da Itália.  Todo o conhecimento estava concentrado nos monastérios e nas Igrejas que, com muito zelo, conseguiram preservar escritos preciosos em meio às invasões bárbaras. Só para não perder o hábito:  “malditos cristãos”.  Carlos propiciou os meios para que este conhecimento florescesse e se alastrasse.
Colégios e estúdios foram sendo criados ao lado das abadias, onde as crianças podiam aprender a ler e calcular.  O Trivium (lógica, gramática e retórica) e o Quadrivium (aritmética, música, geometria e astronomia) estavam sendo estudados novamente.  No Palácio do Rei funcionava o Colégio Paladino que tinha como aluno… Carlos Magno, matrícula 000000001.
A COROAÇÃO DO IMPERADOR O OCIDENTE
Mas era muito difícil manter o controle.  Igreja e estado trabalharam juntos a partir da constituição dos “Missi Dominici” – dois prelados do Imperador, geralmente um conde e um bispo – que montavam seu tribunal em praça pública, comunicavam à choldra as disposições do Rei e depois administravam justiça.  Observem, o estado, escorado na Igreja (pra variar), começa lá no distante século IX a estender seus horrendos tentáculos.  E tu aí, manganão, achando que UPP é novidade?  Faz-me rir!
Dezembro de 800.  Carlos Magno está novamente em Roma.  Dessa vez não veio para chutar ninguém, veio para as celebrações de natal.  Rezava piedosamente o Imperador diante do túmulo do Príncipe dos Apóstolos, quando Leão III parou tudo, chegou junto ao Rei ainda ajoelhado e cingiu-lhe a coroa do Imperador do Ocidente sobre a aclamação do povão: “Vitória e vida a Carlos Augusto, imperador romano grande e pacífico, coroado por Deus!”.
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Enfim, era o fim do caos e das trevas para toda a Europa, nossos antepassados reviram a esperança.  A partir dessa data, Carlos nunca mais partirá em guerras de conquista, os belicosos condes e duques passaram a ter como nobres companheiros os marqueses.
As marcas são províncias fronteiriças que, mais do que lutar e conquistar, têm como principal objetivo defender. Passou também a valorizar a diplomacia, só partindo pra ignorância quando já não havia mais meios para conter a guerra.  Foi por meio da diplomacia, quando das guerras venezianas de 809, que obteve do Imperador bizantino o reconhecimento do Império Ocidental.
Carlos Magno, ao contrário do que se pensou no Ocidente durante muito tempo, nunca conseguiu junto ao califa de Bagdá, Harum-al-Raschid, o protetorado dos Santos Lugares, mas pelo menos conseguiu a doação do Santo Sepulcro e mais – criou um mosteiro em Jerusalém e um hospital para os peregrinos cristãos.  Desculpe-me os leitores dO Catequista, mas eu não resisto: “maldito imperador cristão!”.
Conclui na Próxima.  Até mais rapaziada.

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