A COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS É POSSÍVEL?
Quase todo mundo tem ou conhece alguém que tenha uma história de aparição de fantasma pra contar. É o avô falecido que visita a netinha vez por outra, é a vizinha desencarnada que vem dar um último alô antes de tomar o rumo do Hades… Pelo visto, tem morto que gosta de fazer uma social por estas bandas.
Esse tipo de coisa acontece mesmo ou não? O que a Igreja Católica diz sobre isso?
Até onde eu sei, não diz NADA.
O envolvimento de católicos com o espiritismo é definitivamente maléfico e expressamente proibido pela Igreja. Já comentamos isso em outro post (veja aqui).
Por isso, atenção: não vamos tratar agora das práticas de evocação dos mortos com a finalidade de obter deles algum conselho, doutrinas ou mensagens (espiritismo, ou o que Bíblia chama de necromancia). Falaremos, sim, das manifestações ESPONTÂNEAS de espíritos. Ou seja, ninguém chamou, mas o caboclo aparece mesmo sem ter sido convidado.
Dentro dos círculos católicos – conversas de corredor, palestras, livos e sites – já ouvi de clérigos e leigos diferentes versões para explicar o fenômeno, e parece não haver consenso. Uns dizem que “isso não passa de mera autossugestão”; outros garantem que “não são espíritos, sãodemônios”; e alguns ainda juram que “esso non ecxiste, é tudo ilusão”.
Porém, no Magistério da Igreja ou na Patrística, nunca encontrei nenhum parecer sobre a possibilidade ou não de os mortos se comunicarem com os vivos (de novo: refiro-me aqui a contatos espontâneos, e não provocados por rituais de evocação). Se alguém aí conhece alguma referência deste tipo, compartilha comigo, please.
O CASO DE MOISÉS E ELIAS
Polêmicas à parte, dos Apóstolos Pedro, Tiago e João podemos afirmar, com segurança: They saw dead people! Eles viram e ouviram os falecidos Moisés e Elias conversando com Jesus:
Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e conduziu-os à parte a uma alta montanha. Lá se transfigurou na presença deles (…). E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele.(Mt 17:1-3)
É importante notar que Moisés e Elias dialogavam somente com Cristo, e não dirigiram a palavra aos Apóstolos, que apenas observavam a conversação. Ou seja, os profetas não foram evocados e não estavam ali para revelar ou ensinar nada a eles, então… Nada a ver com espiritismo.
O CASO DO PROFETA ELISEU
No Antigo Testamento, há outra passagem que parece indicar que a comunicação entre mortos e vivos é possível. Estando na iminência de perder uma guerra, Saul, desesperado, deseja se aconselhar com o profeta Samuel. Detalhe: o rei estava em maus lençóis justamente porque não dava ouvidos ao profeta quando este estava vivo, e agora queria encher o saco dele no Além.
Mesmo estando careca de saber que o Senhor abominava essa prática, Saul busca a ajuda de uma necromante (médium) para chamar o espírito de Samuel. Reparem que aqui já não se trata de uma manifestação espontânea de um espírito, mas de um ritual pecaminoso de evocação. Mas o homi não se fez de rogado e “baixou no terreiro”:
Samuel disse ao rei: Por que me incomodaste, fazendo-me subir aqui? Estou em grande angústia, disse o rei. Os filisteus atacam-me (…). Chamei-te para que me indiques o que devo fazer. Samuel disse-lhe: (…) Não obedeceste à voz do Senhor (…); eis por que o Senhor te trata hoje assim. E mais: o Senhor vai entregar Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus. Amanhã, tu e teus filhos estareis comigo… (I Sam 28:15-19).
Como vemos, do Além, o Rei Saul não obteve qualquer ajuda ou conselho, somente maldições. E em nenhum versículo deste capítulo se levanta a possibilidade de que aquilo tudo não passasse de engodo ou ilusão. Já ouvi gente dizendo que o tal espírito não poderia ser de Saul, pois suas profecias não se cumpriram. Como assim não se cumpriram? Vejamos:
- Profecia 1 – “O Senhor vai entregar Israel, juntamente contigo, nas mãos dos filisteus”. O exército de Israel foi derrotado pelos filisteus e Saul se suicidou para fugir da morte inevitável pelas mãos destes inimigos. Ainda que indiretamente, ele morreu sim por causa dos filisteus.
- Profecia 2 – “Amanhã, tu e teus filhos estareis comigo”. Saul não morreu no dia seguinte, mas sim dois dias depois. E, nem todos os seus filhos morreram. Porém, o termo “amanhã” não necessariamente se refere ao dia seguinte, mas ao futuro. Quanto aos filhos, em nenhum momento foi profetizado que TODOS os filhos do rei morreriam. E, de fato, todos aqueles filhos que lutaram com Saul na guerra bateram as botas.
Uma objeção relevante: como Deus poderia ter permitido que o espírito de um de seus profetas obedecesse ao chamado de uma necromante, cujas práticas abomina? Talvez tenha se tratado de uma permissão excepcional, uma tentativa derradeira de fazer Saul (homem ungido) se dar conta de seus erros. Mas o fato é que esse ritual “espírita” se somou aos muitos pecados do rei, e ele caiu de vez em desgraça, como afirmam as Escrituras:
Saul morreu por causa da infidelidade, pela qual se tornara culpado contra o Senhor, não observando a palavra do Senhor e por ter consultado necromantes. (I Cr 10:13).
A COMUNICAÇÃO COM OS MORTOS É SEMPRE PECAMINOSA?
Numerosas são as passagens da Bíblia e os documentos da Igreja que reafirmam que a fé no Deus de Israel e a consulta aos mortos são incompatíveis. Por outro lado, diversos são os relatos de católicos fiéis, que, jamais tendo participado de rituais espíritas ou praticado qualquer forma de evocação, dizem ter sido involuntariamente expostos a visões ou vozes de pessoas falecidas.
A esse repeito, me parece razoável a explicação de Dom Frei Boaventura Kloppenburg, OFM. Ele deixa bem claro que as práticas espíritas (que a Bíblia chama de necromancia) são absolutamente condenáveis, mas também afirma que a comunicação entre vivos e mortos pode não incorrer em pecado, desde que não tenha sido provocada por rituais de evocação:
“Quem negará a Deus todo-poderoso a capacidade de enviar-nos seus mensageiros? Quando Deus manda, a iniciativa é sua; e a conseqüente manifestação do além toma para nós um caráter espontâneo.
“Bem outra é a situação quando a iniciativa é nossa, querendo nós provocar alguma conversação com entidade do além. Quem pretende provocar a manifestação de algum falecido para dele receber mensagem ou notícia pratica um ato chamado pelos antigos denecromancia...” (1)
Sabe-se lá porque Deus permite essas coisas… Mas o certo é que a nossa fé se baseia não no que dizem os espíritos, mas sim nas Escrituras e na Tradição da Igreja, onde que encontramos a Palavra segura para iluminar o nosso caminho.
E não custa lembrar: católicos que frequentam centros espíritas, terreiros de umbanda/candomblé, consultam cartomantes ou médiuns estão vivendo a sua fé de forma corrompida, absurdamente incoerente e ilógica.
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Caso alguém aponte neste texto algo que esteja em desacordo com o que a Igreja Católica ensina, direi como São Tomás de Aquino: “Se, por ignorância, fiz o contrário, eu revogo tudo e submeto todos meus escritos ao julgamento da Santa Igreja Romana”.
Fonte: (1) Kloppengurg, Frei Boaventura (O.F.M) – Espiritismo Orientação para os Católicos – Edições Loyola – 7a Edição – 2002
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