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sábado, 28 de julho de 2012

Meus Crismandos São Todos Ateus


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No mundo de hoje, fico pasma ao notar a alienação dos catequistas de jovens e adultos que montam o programa do curso e o plano de aula imaginando que os alunos são todos católicos piedosos, que estão ali somente para aprofundar mais os seus conhecimentos sobre a doutrina.
Abra o olho, amigo catequista, acorda pra real! Sabe aquelas duas meninas que sentam na última fileira? Elas são sapatas, e estão namorando há dois meses. Lembra do carinha de óculos que nunca falta uma aula? Ele é do tipo que pensa “Jesus sim; Igreja e religiões não”. E aquela menina simpática que tem um piercingna língua? Ela é católica desde criancinha e vai à missa todos os domingos; mas, depois que leu “O Código Da Vinci”, acredita piamente que Jesus teve um enrosco com a Maria Madalena.
Este é o perfil do católico médio: participa de alguns ritos da Igreja e tem respeito por Jesus, por Nossa Senhora e pelos santos; porém, na vida cotidiana, pensa e age como os pagãos. É devoto, mas titubeia diante da primeira notícia de que um arqueólogo qualquer achou um túmulo que “pode ser o de Jesus”. Na Missa, derrama lágrimas de comoção, mas na escola, no trabalho, nas festas e nos relacionamentos afetivos, não se diferencia em nada daqueles que não creem. Na prática, é um ateu que reza diariamente o Pai-Nosso e a Ave-Maria.
Essa realidade foi constatada pelo Beato João Paulo II. Segundo ele, o contexto cultural em que vivemos – fortemente determinado pelo “ateísmo prático” – torna necessária, antes de tudo, a apresentação de “motivos de ordem racional que levam ao reconhecimento de Deus”:
“O Concílio reconheceu que, na génese do ateísmo, puderam contribuir os crentes que nem sempre manifestaram de maneira adequada o rosto de Deus (cf. GS, 19; C.I.C., 2125).
“Nesta perspectiva, está precisamente no testemunho do verdadeiro rosto de Deus Pai a resposta mais convincente ao ateísmo. Obviamente, isto não exclui mas exige também a correcta apresentação dos motivos de ordem racional que levam ao reconhecimento de Deus. Infelizmente, essas razões são muitas vezes ofuscadas pelos condicionamentos devidos ao pecado e por múltiplas circunstâncias culturais.”
João Paulo II (1)
Há crismandos maduros da fé, é claro, mas são a minoria. A maior parte deles precisa de ajuda para entender os conceitos mais básicos da espiritualidade. Por isso, nas primeiras aulas, sempre parto do princípio de que meus crismandos são todos ateus, o que me obriga a tratar o tema do relacionamento do homem com Deus de forma muito cuidadosa e logicamente estruturada.
Porém, o que muitos catequistas costumam fazer? Em vez de começarem a construir a casa pelos alicerces, tentam iniciar a obra pelo telhado. Assim, logo nas primeiras aulas, começam a tagarelar sobre temas morais e doutrinais, Bíblia, dogmas, História da Salvação etc. Enquanto isso, as questões fundamentais que deveriam ser muito bem trabalhadas antes – a sede de Deus, a busca pelo sentido da vida, os sinais de Deus na realidade – permanecem ignoradas, ou são tratadas de modo muito breve e superficial.
Então, vamos parar de pregar para os católicos do mundo da fantasia. Precisamos orar e nos preparar para servir ao Senhor por meio de uma catequese inteligente, mais adequada para dialogar com os jovens e adultos de uma sociedade secularizada.
Nota: (1) Site do Vaticano. João Paulo II – Audiência – Dar testemunho de Deus Pai é a resposta cristã ao ateísmo. 14/04/1999

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