Um leitor dO Catequista (que prefere ficar anônimo) nos escreveu relatando uma conversa informal que teve com um sacerdote. O padre lhe disse que o Inferno até pode existir, mas que deve estar vazio. Todos se salvariam (mesmo aqueles que não se arrependeram antes da morte), apenas alguns passando pelo Purgatório.
Tenho a impressão de que esse padre, assim como eu, curte o filme “O Auto da Compadecida”*, mas tem uma séria dificuldade de desvincular a ficção da realidade. Desconfiado desse conto de fadas, o leitor nos pergunta o que a Igreja realmente ensina acerca do Inferno e do destino das almas.
Bem, a verdade é que nem as Escrituras, nem a palavra dos santos, nem a Tradição dão qualquer suporte a esta historinha de “Inferno vazio”. Aliás, muito ao contrário. O Abismo tem muitos habitantes, a começar por Lúcifer e os anjos decaídos, conforme revelado no livro de Daniel. Como nós, os anjos rebelados eram criaturas amadas de Deus, mas a sua perversão os precipitou nas trevas para todo o sempre.
Mas antes de falar da Bíblia e da Tradição, vamos refletir sobre as coisas à nossa volta. Pensem, por exemplo, no caso dos criminosos abomináveis: na boa, algum de vocês apostaria um real que os pedófilos incorrigíveis vão habitar o Paraíso? Algum de vocês apostaria na salvação de Hitler, Lênin ou Stálin? E aqueles traficantes que queimam gente viva dentro da pilha de pneus, e morrem impenitentes? Já imaginou eles tocando harpa com asinhas nas costas, pulando de nuvem em nuvem?
É claro, só a Deus cabe o julgamento, mas eu – eu, eu – não arriscaria os meus trocadinhos nessa aposta! Deus é infinitamente misericordioso, mas também é justo. O médico veio para os doentes, mas se os doentes rejeitam o tratamento… como poderá Ele impedir as suas mortes?
]Basta observar a realidade do mundo e a podridão dos corações para chegarmos à conclusão de que o Inferno tá mil vezes mais cheio do que show gratuito da Beyoncé.
Muitos são chamados, poucos são escolhidos
Há muitas passagens no Novo Testamento que indicam o grande número de homens – grande mesmo! – que caem na desgraça eterna. Como aquela em que um homem perguntou a Jesus (Lucas 13, 23-28):
– Senhor, são poucos os homens que se salvam?
O Mestre respondeu:
– Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque vos digo: muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levante e feche a porta, ficareis fora.
Notem: o Senhor afirmou categoricamente que muitos, mesmo entre os cristãos (“Nós comíamos e bebíamos diante de Ti e ensinavas nas nossas praças!”) não conseguirão entrar na Casa do Pai, e serão enviados para um lugar onde “haverá choro e ranger de dentes”.
É muito difícil ler isso sem concluir que a maioria das pessoas acabará na danação eterna. O pior é que esta passagem da “porta estreita” não está isolada, e corrobora com outros trechos do N.T. que indicam que o Inferno está muito bem povoado.
- Jesus diz que “muitos são chamados e poucos são escolhidos” (Mt 22, 14).
- Há pessoas que, por mais que ouçam a Palavra de Deus, jamais se abrem para compreendê-la e acolhê-la. Jesus diz que não pode curar (ou seja, salvar) gente assim.
“Porque o coração deste povo tornou-se insensível. São duros de ouvido e fecharam os olhos para não ver com os olhos, e não ouvir com os ouvidos, não compreender com o coração e não se converter. Assim não podem ser curados”. (Mateus 13,15)
- Jesus acusou os doutores da Lei e fariseus hipócritas de fecharem o Reino dos Céus aos homens com suas falsas doutrinas (Mt 23,13). E depois de os xingar muuuuuuito, questionou: “Como é que poderíeis escapar à condenação do inferno?” (Mt 23,33).
E o trecho que eu jamais gostaria de ter lido nos Evangelhos é este: “Mas o Filho do Homem, quando vier, será que vai encontrar fé sobre a Terra?” (Lucas 18, 8). Com que tristeza o Senhor não teve ter dito isso! Quem se recusar a abraçar a fé, como poderá receber a salvação? É bom lembrar o que Ele disse: quem não crer, será condenado (Mc 16,16).
Pra não me alongar muito, nem vou citar as numerosas passagens do Apocalipse que preveem a condenação de um grande número de pessoas.
Diante disso, alguém que insista em crer que o Inferno não existe ou está vazio terá, necessariamente, que afirmar que Jesus era chegado num blefe. Ficava contando lendas assustadoras sobre mundos imaginários, só pra botar terror e manter a gente no cabresto.
E quanto a Nossa Senhora de Fátima? Ela enganou os três pastorinhos com aquela visão do Inferno cheio de almas desesperadas! NÃO PERA…
Apesar de tantas evidências que desqualificam a tese do Inferno vazio, esse discurso convence a muitos (olha os cristãos-jujuba aí, gente!). Previsível: a grande maioria das pessoas prefere dar ouvidos a mentiras reconfortantes do que a verdades inconvenientes.
* No filme “O Auto da Compadecida”, há uma cena em que Nossa Senhora interdece pelas almas dos pecadores na hora do juízo particular. Contando com tão poderosa advogada, a adúltera, o empresário avarento e os sacerdotes corruptos escapam do Inferno, sendo todos encaminhados ao Purgatório. Devo dizer que a Virgem “força uma barra” em sua busca de amenizar os erros e justificar os piores crimes, mas a cena é bonita, e divertida também (ver aqui e aqui).
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